Moro não se empenhou em investigar facada, declara Bolsonaro

Chefe do Executivo voltou a criticar, nesta quinta-feira, o pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022

Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

Depois de mais de três anos da facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta quinta-feira, que o ministro da Justiça e Segurança Pública da época da apuração do caso, Sergio Moro, não se empenhou na investigação. Bolsonaro disse que pensou sobre a possibilidade de a filha, Laura Bolsonaro, virar órfã.

“Estou com 66 anos de idade, já vivi bastante e peço a Deus para viver mais um pouco, para que a minha filha, de 11 anos, cresça. Quando fui esfaqueado, o que eu mais pensava era se a minha filha iria virar órfã, e muita gente vibrando. A Polícia Federal, não digo a PF, o ministro da Justiça da época não se empenhou pela investigação”, disse.

“Será que os mandantes podem ser gente que a gente menos espera? Que interessava eu morto. Eu estava crescendo e a eleição era uma questão de tempo. Não falem que eu me elegi porque não houve fraude, por favor, não falem isso. A verdade está aí”, complementou.

As declarações foram dadas durante cerimônia alusiva ao Dia Internacional Contra a Corrupção, no Palácio do Planalto, em Brasília.

O atentado contra Bolsonaro ocorreu no dia 6 de setembro de 2018, na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, durante campanha eleitoral. Recentemente, a PF reabriu as investigações sobre o ataque para identificar quem financiou a defesa do autor da agressão, Adélio Bispo de Oliveira. A diligência teve de ser retomada em razão de uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

Cloroquina
Durante o evento, Bolsonaro pediu para levantar a mão quem da plateia havia contraído o novo coronavírus e tomado hidroxicloroquina e ivermectina. Diversas pessoas, entre eles muitos generais do Exército, levantaram as mãos.

“A CPI [da Covid, no Senado] resolveu me incriminar por causa disso, me rotulando de charlatanismo. Cadê a liberdade? Calaram os médicos do Brasil”, disse Bolsonaro na sequência, acrescentando ter sido pelos dois medicamentos, de eficácia questionada contra a Covid-19.

Daniel Silveira
O chefe do Executivo relembrou a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-SP), aliado dele. “Eu não posso entender um parlamentar ficar preso sete meses. E, se errou, como todos nós podemos errar, jamais seria para isso. Qual o limite de certas pessoas no Brasil?”, questionou.

Silveira está preso desde 16 de fevereiro deste ano após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito sigiloso que apura ameaças, ofensas e notícias falsas disparadas contra magistrados da Corte e familiares deles.

“Se coloque no lugar dessa pessoa. Muitos falam para não falar no assunto, eu estou defendendo a liberdade, a Constituição”, disse Bolsonaro. “Não tem cabimento isso. Ninguém pode ser autoritário nesse país. Doeu meu coração ver um colega preso? Doeu”, complementou, em outro momento do discurso.

Bolsonaro criticou também a cassação do deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR), ocorrida em 28 de outubro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O parlamentar é acusado de espalhar fake news no dia da votação da eleição de 2018. Francischini se tornou a primeira pessoa eleita que perdeu o mandato por causa de notícias falsas, abrindo precedente para casos semelhantes.

Para o chefe do Executivo, a ação “virou moda”. “Não falo com ele [Francischini] depois de três meses que tomei posse [em 2019]. Ele teve a vida dele, e eu tive a minha. Isso não pode acontecer meu Deus do céu”, contou. “Estamos assistindo atos arbitrários no Brasil com constância. Não é uma crítica, uma ofensa a um Poder, isso é uma constatação, uma realidade.”

Inquérito
No discurso, de mais de 30 minutos, o chefe do Executivo falou ainda sobre o inquérito recém-aberto pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por associar vacinas ao desenvolvimento da Aids, o que é cientificamente incorreto.

“A que ponto chegamos? Inquérito por causa de live. Eu falei, falei não, eu li um material que falava da correlação de HIV com Covid. Que ponto chegamos? Será que vão querer bloquear as minhas redes sociais? Vão querer quebrar uma perna minha? Isso é democracia? Não, não é, isso é jogar fora das quatro linhas. Ninguém quer jogar fora das quatro linhas. Nós queremos respeito, mais que isso, exigimos. Por favor, não extrapolem. Eu jurei minha vida pela pátria e dou pela liberdade também”, afirmou Bolsonaro.

Moraes abriu o inquérito, no último dia três, a pedido da CPI da Covid do Senado Federal. A declaração de Bolsonaro, em que associou a Aids com o coronavírus, ocorreu em uma live feita em 22 de outubro. Na ocasião, o presidente leu um texto sobre o assunto, mas a ligação não existe. As informações, que são falsas, levaram o vídeo a ser removido pelo Youtube, Facebook e Instagram.

Reunião Ministerial
Bolsonaro comentou sobre a reunião ministerial de 29 de abril de 2020, que veio a público após ser a peça-chave do inquérito aberto no STF para investigar as acusações do ex-ministro Moro. Na ocasião, o ex-juiz da Lava Jato acusou o presidente de ingerência na PF e mencionou o vídeo do encontro entre os ministros como prova da acusação.

O chefe do Executivo disse que o governo preservou o pen-drive que continha a gravação ministerial, evitando ser acusado de que havia interferido politicamente na corporação. “Mostramos, entregamos na íntegra e pedimos que 30 segundos não fossem divulgados porque era segredo de Estado”, contou.

Passaporte da vacina
Bolsonaro também voltou a criticar o passaporte da vacina, documento que comprova a vacinação contra a Covid-19. “Vi agora um tumulto no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e queriam que a gente impusesse aqui a obrigação do cartão vacinal. Como posso aceitar o cartão se eu não tomei vacina e é um direito meu, como é o direito de qualquer um aqui? Aí colocamos o PCR, um tumulto. A preocupação minha sempre foi combate ao vírus e ao desemprego.”

Combate à Corrupção
O ministro Wagner Rosário, que comanda a Controladoria-Geral da União (CGU), um dos órgãos responsáveis pelo combate à corrupção, afirmou que não há nenhum caso de corrupção “na alta cúpula do governo”.

“Estamos cumprindo a determinação dada pelo senhor no início de governo: fortalecer as instituições e criar mecanismos eficientes contra à corrupção. Os resultados já estão aí: não temos hoje um único caso sequer de caso de corrupção na alta cúpula do nosso governo”, disse.

Rosário informou que a pasta trabalha em três eixos: capacidade de detecção, de responsabilização e medidas de prevenção. O ministro relatou que a CGU realizou mais de 570 operações com demais órgãos, que deram prejuízo de R$ 5,9 bilhões. No segundo ponto, de responsabilização, o ministro comunicou que o Poder Executivo demitiu 445 servidores e firmou 1.026 termos de ajustamento de conduta neste ano.

Em relação à responsabilização de pessoas jurídicas, o país celebrou 17 acordos de leniência com empresas que cometeram ilícitos, sendo cinco neste ano. Juntos, os acordos somaram R$ 15,44 bilhões, dos quais R$ 5,57 bilhões já recolhidos aos cofres da União.

Estiveram na cerimônia os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Ramos (Secretaria-Geral), Braga Netto (Defesa), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), Ciro Nogueira (Casa Civil), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Paulo Guedes (Economia), Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Bruno Bianco (Advocacia-Geral da União), e também Roberto Campos Neto (Banco Central).