Na primeira visita ao Rio Grande do Sul após se filiar ao Podemos e se tornar pré-candidato à presidência da República, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL), dessa vez o foco foi a falta de posição dele em relação à execução em segunda instância. Moro e Bolsonaro têm trocado críticas nos últimos dias.
“O atual presidente nunca defendeu a execução em segunda instância e nunca mexeu uma vírgula, um dedo para trabalhar pela manutenção. Eu, ao contrário, como ministro, falei com ministros (do STF) e defendi publicamente (…) Eu tenho um lado muito claro, que é o da Justiça e da impunidade. O presidente não pode entrar nessa disputa porque ele precisa esclarecer qual é a posição dele. Que ele se posicione”, afirmou.
A mudança no entendimento do Supremo Tribunal Federal, em novembro de 2019, sobre a execução de pena em segunda instância permitiu, por exemplo, a soltura do ex-presidente Lula. Moro afirmou que Bolsonaro comemorou a soltura, enquanto que o presidente reagiu, o chamando de ‘mentiroso’. Ao defender a volta da medida, Moro citou que o projeto sobre o assunto será discutido na próxima semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal.
Protesto e defesa da Lava Jato
Em pré-campanha, Sergio Moro foi a principal atração da primeira convenção partidária da sigla no Rio Grande do Sul. Além do evento partidário, na noite de sexta-feira ele encontrou-se com um grupo de empresários e, na manhã deste sábado, com o governador Eduardo Leite.
Na convenção, que durou duas horas, ele acompanhou a filiação de novos integrantes, entre eles a do deputado federal Maurício Dziedricki, que deixou o PTB, discursos alinhados sobre a importância de acabar com a polaridade extrema na política e a recuperação do debate sobre combate à corrupção.
Em seu discurso, que durou cerca de 20 minutos, Moro relembrou e defendeu a operação Lava Jato, que trouxe notoriedade a ele, que era então um juiz de primeira instância. Na sequência, enalteceu o combate à corrupção, em uma repetição aos discursos que têm feito.
As ações dele na Lava Jato, assim como o modelo político que representa na política, foram criticadas no início do evento. Um grupo, formado em maior parte por mulheres, protestou contra a presença de Moro. Com cartazes, citavam que Moro representa o mesmo que Bolsonaro e gritos de fascista. O vereador da Capital Jonas Reis (PT) estava no grupo. A presença dos manifestantes gerou um princípio de confusão com os apoiadores de Moro. O ato durou menos de 10 minutos. Após o evento, Moro voltou a defender a operação. “Não há nada do que se envergonhar da Lava Jato”.
No momento do protesto, o ex-ministro ainda não estava no local, porque antes da convenção, Moro se encontrou com o governador Eduardo Leite para um café da manhã. Sobre Leite, Moro disse ser “um grande quadro do país”, mesmo tendo perdido as prévias do PSDB para o governador João Doria. Afirmou que está conversando com lideranças de vários partidos para a construção da candidatura. E foi enfático ao dizer que a bandeira da luta contra a corrupção afastará daqueles ligados a processos. “O combate à corrupção está no meu DNA, então toda a conversa é importante, no entanto, temos limites que não ultrapassamos jamais”, afirmou.
Vice-governador recebe convite para entrar no Podemos
O evento, que ocorreu no Teatro Dante Barone, reuniu centenas de pessoas e integrantes de outras siglas também, como do PSDB, como vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, e o deputado estadual Faisal Karam; do PP, deputado estadual Ernani Polo, e do Cidadania, a deputada estadual Any Ortiz.
Único entre eles a discursar, Ranolfo disse que não poderia deixar de estar presente, uma vez que muito ali “tinham a origem no mesmo partido”, em uma referência ao PTB. O vice-governador ressaltou a importância da bandeira do combate à corrupção, parafraseando Moro. Após, veio da presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu, o convite direto para que ingresse na sigla. “Qualquer coisa, tu pulas pra cá”, afirmou ela, quando citava os avanços da gestão Leite/Ranolfo.
Ranolfo deixou o PTB após críticas do então presidente nacional Roberto Jefferson. Ele ingressou na sigla sendo apontado como possível candidato ao governo do Estado, no momento em que Leite disputava as prévias do PSDB para a disputa à presidência da República.
Sobre as eleições de 2022, os articuladores do partido trabalham para eleger bancada na Assembleia gaúcha e na Câmara Federal, além de assegurar a reeleição de Lasier Martins no Senado. Porém, além da filiação do deputado federal Maurício Dziedricki, o presidente estadual da sigla, Everton Braz, garante que em março, quando será aberta a janela de troca partidária, o partido já terá representação na Assembleia e bancada na Câmara. No evento, também foram lançados pré-candidatos à vaga de deputado estadual e federal.