O Talibã afegão anunciou, nesta terça-feira, que quer manter relações pacíficas com outros países e que vai respeitar os direitos das mulheres, nos moldes da lei islâmica. Feitos na primeira entrevista coletiva oficial desde a tomada inesperada da capital, Cabul, no domingo, os anúncios do Talibã foram escassos em detalhes, mas sinalizaram uma postura mais suave que a do governo de 20 anos atrás. A coletiva de imprensa ocorreu em um momento em que Estados Unidos e aliados ocidentais fazem a retirada de diplomatas e civis, um dia depois de cenas caóticas de afegãos lotando o aeroporto de Cabul.
Enquanto se apressa em retirar cidadãos do território afegão, o mundo ocidental discute como reagir à situação. Em questão de dias, as forças militares do governo se desfizeram. Com o retorno do Talibã, muitos preveem um esfacelamento provavelmente rápido dos direitos das mulheres.
Entre 1996 e 2001, quando também governou guiado pela lei islâmica, ou shariah, o Talibã proibiu as mulheres de trabalhar e aplicou a elas punições, incluindo o apedrejamento público. As meninas não podiam frequentar escolas, e as mulheres tinham que usar burcas que as cobriam por inteiro para sair.
“Não queremos nenhum inimigo interno ou externo”, disse o principal porta-voz do movimento, Zabihullah Mujahid.
As mulheres terão permissão para trabalhar e estudar, e “serão muito ativas na sociedade, mas dentro dos moldes do Islã”, acrescentou.
“Precisaremos ver o que realmente acontece, e acho que precisaremos ver atos no local em termos de promessas cumpridas”, disse o porta-voz da União Europeia, Stéphane Dujarric, aos repórteres em Nova York, em reação à entrevista coletiva do Talibã.
Mujahid disse que o Talibã não vai buscar retaliação contra ex-soldados e membros do governo apoiado pelo Ocidente.
Segundo o porta-voz do movimento, o Talibã está garantindo anistia a ex-soldados do governo afegão, prestadores de serviço e tradutores que tarbalharam para outros países. “Ninguém ferirá vocês, ninguém baterá em suas portas”, disse ele, acrescentando que existe uma “diferença enorme” entre o Talibã de agora e o de 20 anos atrás.
De acordo com Mujahid, a mídia privada pode continuar sendo livre e independente no Afeganistão. O porta-voz afirmou que o Talibã está comprometido com a mídia dentro dos moldes da cultura islâmica.
Ele também defendeu que as famílias em fuga, pelo aeroporto, voltem para casa.
O tom conciliador de Mujahid contrastou acentuadamente com os comentários do primeiro-vice-presidente afegão, Amrullah Saleh, que se declarou o “presidente interino legítimo” e prometeu não se curvar aos novos governantes de Cabul.
