Em quatro meses, mortalidade materna relacionada à Covid já é seis vezes maior que a de 2020 no RS

Entre janeiro e abril de 2021, foram registrados 35 óbitos de gestantes ou mulheres que deram à luz recentemente por coronavírus

Foto: Foto: Roberto Vinicius/CP Memória

Em apenas quatro meses, o Rio Grande do Sul superou em seis vezes o número de mortes relacionadas ao coronavírus envolvendo gestantes e mulheres que deram à luz recentemente, na comparação com todo o ano passado. Conforme dados divulgados nesta sexta-feira, no Boletim Epidemiológico de Mortalidade Materna e Infantil do Rio Grande do Sul, entre janeiro e abril de 2021 foram registrados 35 óbitos maternos em decorrência da doença. Ao longo de 2020, desde o início da pandemia, foram seis fatalidades.

Ainda segundo o boletim, no ano passado, o Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) registrou 419 internações por Síndromes Respiratórias Agudas (SRAG) entre gestantes e mulheres que deram à luz recentemente no Rio Grande do Sul. Dessas, 199 tiveram confirmação para Covid-19, resultando em 40 internações em unidades de terapia intensiva (UTIs).

Já em 2021, considerando apenas os primeiros quatro meses do ano, o mesmo sistema registrou um total de 406 internações entre gestantes e puérperas em hospitais gaúchos. Foram confirmados 323 casos de coronavírus, contando aqueles em andamento ou encerrados, com 106 deles exigindo leito de UTI.

Para o médico Paulo Sérgio da Silva Mário, da Política da Saúde da Mulher da Secretaria da Saúde (SES), o aumento da mortalidade está relacionado ao surgimento de novas cepas da doença, que, consequentemente, agravou a pandemia em território gaúcho.

Para conter o avanço das mortes, a SES trabalha junto aos serviços de atenção básica e orienta sobre a necessidade da triagem das gestantes para o diagnóstico da Covid-19, “com monitoramento e fluxos de encaminhamento ágeis e adequados”, relata Silva Mário.

Dados gerais de 2020

Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), os dados de 2020 ainda são parciais, já que, para finalizar o banco nacional de mortalidade materna é realizada uma investigação complexa dos casos, e o processo pode se estender por até um ano e dois meses. Até a data da publicação do boletim, o sistema de informação de mortalidade havia identificado 44 óbitos maternos, uma razão de 33,7 óbitos a 100 mil nascidos vivos no Rio Grande do Sul.

O perfil de maior mortalidade concentra mulheres com 30 anos ou mais, negras e com menos de sete anos de escolaridade. As principais causas de morte no ano passado foram: hemorragias (25%) e pré-eclâmpsia (25%), seguidas de outros (18%), Síndromes Respiratórias Agudas não especificadas (7%), Covid-19 (11%), HIV (4%), doenças do aparelho circulatório (5%) e doenças do aparelho respiratório (5%).

Em 2019, o Rio Grande do Sul apresentou a quarta menor razão de mortalidade materna nacional, com uma taxa de 36,5 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, ficando atrás de Distrito Federal (21,2), Santa Catarina (30,6) e Amapá (32,6).

Mortalidade infantil reduziu em 2020

No ano passado, o Rio Grande do Sul atingiu o menor valor da história quanto aos óbitos em menores de um ano, com 8,61 óbitos a cada mil nascidos vivos, superando, portanto, a meta pactuada de 9,75, de acordo com dados preliminares do Boletim Epidemiológico de Mortalidade Materna e Infantil do Rio Grande do Sul.

A pediatra da equipe da Saúde da Criança da SES, Andrea Leusin de Carvalho, explica que “a redução significativa na mortalidade infantil se deu principalmente no componente pós-neonatal, sendo que os óbitos relacionados às doenças respiratórias tiveram uma redução proporcionalmente maior que as outras causas, provavelmente relacionados às medidas de prevenção adotadas durante a pandemia”.

Ainda segundo o balanço, a maioria dos óbitos está relacionada às causas perinatais, período que fica entre as 22 semanas completas de gravidez e os 7 dias completos após o nascimento, e com predomínio do óbito neonatal precoce de zero a seis dias de vida.