Agências de saúde dos EUA pedem interrupção do uso da vacina da Johnson & Johnson

Ministério da Saúde, ainda comandado por Eduardo Pazuello, assinou contrato para receber 38 milhões de doses do imunizante

Foto: Governo do Estado de São Paulo / Divulgação

Agências federais de saúde dos Estados Unidos recomendaram nesta terça-feira uma pausa imediata no uso da vacina contra a Covid-19 da Johnson & Johnson, citando preocupações com a formação de coágulos sanguíneos nas pessoas que receberam a injeção. Seis mulheres entre 18 e 48 anos que receberam o imunizante de dose única desenvolveram os coágulos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que se manifestou em um comunicado. Uma delas morreu e outra está em estado crítico no hospital.

Antes de deixar o cargo de ministro da Saúde, Eduardo Pazuello anunciou a assinatura do contrato com a Janssen e a Pfizer para a aquisição de vacinas contra a Covid-19, o que deve garantir 138 milhões de doses ao Brasil até o final de 2021. As doses vão chegar de forma escalonada, de abril até novembro. Serão 100 milhões de doses da Pfizer e outras 38 milhões da Janssen.

“O CDC vai convocar uma reunião do Comitê Consultivo em Práticas de Imunização (ACIP) na quarta-feira para revisar esses casos e avaliar sua importância potencial. A Food and Drugs Administration (FDA )vai revisar essa análise, uma vez que também investiga esses casos”, relatou o órgão. “Até que esse processo seja concluído, estamos recomendando uma pausa no uso desta vacina por muita cautela”.

Todas as mulheres desenvolveram a condição cerca de duas semanas após a injeção, e especialistas estão preocupados que uma resposta do sistema imunológico desencadeada pela vacina tenha sido a causa. Em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o pedido de uso emergencial desta produto no Brasil de forma unânime. Ela será importada e não há previsão de parceria para produção nacional.

Quase sete milhões receberam imunizante nos EUA 

Conforme a legislação dos EUA, o governo federal tem autoridade para interromper as vacinações que está realizando diretamente, mas não aquelas que estão sendo administradas por funcionários estaduais. O The New Times relatou que as autoridades americanas esperam que os estados também optem por interromper o uso da vacina. A análise de 62 páginas dos dados da FDA, que foi divulgada no final de fevereiro, concluiu que a injeção era eficaz e segura.

Quase sete milhões de pessoas nos Estados Unidos receberam injeções da Johnson & Johnson até agora, e cerca de nove milhões a mais de doses foram enviadas para os estados, conforme dados públicos do CDC. “Normalmente, um anticoagulante chamado heparina é usado para tratar coágulos sanguíneos. Nesse cenário, a administração de heparina pode ser perigosa e tratamentos alternativos precisam ser administrados”, explicou o comunicado.

“Nenhuma relação causal clara foi estabelecida”

Em uma nota à imprensa, a Johnson & Johnson disse que estar ciente “de que eventos tromboembólicos, incluindo aqueles com trombocitopenia, foram relatados com as vacinas Covid-19. No momento, nenhuma relação causal clara foi estabelecida entre esses eventos raros e a vacina Janssen”, divisão da Johnson & Johnson que desenvolveu o imunizante.

Nos EUA, entre 300 mil e 600 mil pessoas por ano desenvolvem coágulos sanguíneos, de acordo com CDC. Mas o distúrbio específico de coagulação do sangue que os receptores da vacina desenvolveram, conhecido como trombose do seio venoso cerebral, é extremamente raro. Coágulos sanguíneos em outros países levaram a revisões e algumas pausas no uso da vacina AstraZeneca, principalmente na Europa – ela não faz parte da campanha de imunização em solo norte-americano.