Com quase 160 internados novos por dia, RS enfrenta pior momento da Covid, avalia Leite

Média era de 64, entre junho e julho, e de 67, entre outubro e novembro

Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

O governador Eduardo Leite afirmou, durante transmissão virtual realizada no fim da tarde desta sexta-feira, que o Rio Grande do Sul vive o pior momento da pandemia de coronavírus. De acordo com ele, é preocupante o aumento das taxas de ocupação de leitos clínicos e de terapia intensiva (nesta noite, eram 1.035 pessoas hospitalizadas em estado grave no RS, a maior marca desde março do ano passado). Leite frisou que, em comparação com “as duas primeiras ondas” de agravamento da doença, o cenário atual surpreende, embora a capacidade hospitalar tenha mais que dobrado desde o início da pandemia.

De acordo com o governador, entre junho e julho, a média diária de pacientes novos internados com diagnóstico positivo de Covid era de 64. Já na segunda “onda”, entre novembro e dezembro, a taxa aumentou para 67. Desde 10 de fevereiro, os hospitais gaúchos registraram, em média, 159 novos pacientes por dia em função do coronavírus. “É um ritmo de crescimento que não tínhamos visto até então. A curva está muito inclinada, e é diferente do que já vimos por aqui”, declarou.

Leite ainda assinalou que o perfil de pacientes hospitalizados mudou. Também recentemente, os indicadores apontaram aumento em internações de pacientes sem comorbidades, de fora dos grupos de risco. De acordo com o governador, a Secretaria Estadual da Saúde verifica as razões para essa maior vulnerabilidade. Em Porto Alegre, por exemplo, a média de idade dos pacientes que pedem internação pela Covid caiu para 58,6 anos, contra os 63,9 da semana passada.

“Estamos fazendo todos os esforços no sentido de esclarecer as razões desse avanço tão rápido, não temos estudos suficientes para poder afirmar categoricamente as causas, se é uma nova cepa, se é uma variante, o que está ocasionando isso, porque está acontecendo muito rapidamente, mas é uma realidade”, pontuou.

Por conta da situação, apontada como grave, o governador disse que hospitais gaúchos foram orientados a suspender as cirurgias eletivas (sem urgência) para que fiquem disponíveis a um número maior de pacientes de Covid.

RS “preparado”

Já o diretor do Departamento de Regulação da Secretaria Estadual da Saúde do RS (DRE/SES), Eduardo Elsade, enfatizou que ainda existe a possibilidade de os hospitais utilizarem leitos de emergenciais de UTI.

“Inclusive se necessário convocando equipes médicas para que a gente consiga expandir ao máximo a rede do RS, isso em uma etapa subsequente, claro que esperamos que não chegue a esse ponto, mas o Rio Grande do Sul está preparado para um agravamento dessa epidemia se assim ela se comportar”, declarou.

Bandeira preta

Leite finalizou a transmissão informando que bandeira preta não é lockdown. “No Brasil, isso (fechamento total) não se demonstra, até aqui, viável, pelas pressões socioeconômicas”, assinalou. Além disso, ressaltou que a bandeira preta estabelece medidas “bem mais restritivas”, como forma de reduzir a circulação do vírus.

Com relação a um decreto que sai neste sábado, Leite disse que “não há nenhum prazer” em, como governador, estabelecer essas restrições. “Pelo contrário, ter que tomar decisões como essas não é nada fácil, mas é o que se impõe como responsabilidade para o momento crítico que estamos vivendo”. O texto deve restringir atividades, no período entre 22h e 5h, em todas as cidades gaúchas, até 1º de março.

“Nenhuma atividade é absolutamente segura, nós buscamos reduzir riscos, mas nada é 100% seguro, então: quem puder, fique em casa, evite circular, evite aglomerar. Superar este momento é tarefa de todos nós”, concluiu.

Para sindicato de hoteis e restaurantes, não há outro caminho

Na noite desta sexta, o Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha) se manifestou sobre as decisões do governo estadual. Para a entidade, esse é o único caminho possível para tentar frear o aumento do contágio e da transmissão do coronavírus, evitando um cenário ainda pior – em que as atividades econômicas voltem a fechar.

“Não queremos um novo fechamento e nem podemos ter qualquer tipo de nova restrição no horário de funcionamento. A gastronomia e a hotelaria não vão suportar mais esse baque econômico. A medida do governo do Estado vai justamente nesse caminho, de tentar frear a contaminação e fazer com que possamos seguir avançando, sem retroceder. Na verdade, essa decisão ainda demorou a acontecer, mas esperamos que, neste momento, a sociedade, incluindo todos os poderes e a população em geral, cumpram o seu papel, para passarmos por isso da maneira mais rápida possível e evitarmos o pior”, disse o presidente do Sindha, Henry Chmelnitsky.