Aumenta número de internados pela Covid, com menos de 60 anos, em UTIs de Porto Alegre

Média de idade nas solicitações de internação caiu para 58,6 anos em uma semana

Foto: Mauro Schaefer/CP

Pacientes infectados pela Covid-19, com idades inferiores a 60 anos, vêm ocupando cada vez mais os leitos hospitalares de Porto Alegre, desde a semana passada, inclusive nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). É o que indica a análise do coordenador de Atenção Hospitalar da Secretaria da Saúde de Porto Alegre (SMS), médico Márcio Rodrigues. O cenário é observado em pelo menos duas instituições hospitalares da capital.

No Grupo Hospitalar Conceição (GHC), que é público, por exemplo, triplicou o número de hospitalizações de 30 a 39 anos, e na faixa dos 40 a 49 anos, aumentou 50%. No Hospital Moinhos de Vento (HMV), privado, aumentaram em 48% as internações de pessoas com idades entre 40 e 59.

De acordo com Rodrigues, a média de idade nas solicitações de internação caiu para 58,6 anos nos últimos 7 dias, contra 62,6 anos nos 50 dias anteriores. Se considerar apenas as UTIs, também houve uma redução nessa última semana, passando de 63,9 anos para 59,8. “Essa diferença medida é estatisticamente significativa. Essa variação é gigante na realidade… são quatro anos de diferença na média de mais de 5 mil pessoas. (…) Essa mudança é de interesse clínico e aponta uma possível mudança de comportamento do vírus”, explica o médico da SMS.

A gerente médica do Moinhos de Vento, Gisele Nader, relata que na quinta-feira a casa de saúde bateu recorde de internações da pandemia. Em agosto, o pico havia sido de 123 pacientes e na quinta, a instituição tinha 127 internados com a doença. Mas o recorde chega com uma mudança no perfil dos pacientes. “Ao longo deste tempo todo, continuamos tendo pacientes acima dos 60 anos. Mas da semana passada para cá aumentaram em 48% aqueles com idade de 40 a 59, mas com as mesmas comorbidades”, constata.

Nos hospitais do GHC, segundo a coordenadora do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia, Ivana Varela, a mudança também ocorreu de forma súbita, em fevereiro. “As internações para a faixa dos 30 a 39 anos vinham oscilando entre 5% a 4% nos meses anteriores e passaram para 13% em fevereiro. De 40 a 49 anos, em junho eram 15%. Em setembro tinham chegado a 14%. Agora em fevereiro está em 16%”, compara a epidemiologista. Ivana lembra que as hospitalizações de pessoas com 60 anos ou mais também tiveram oscilações no ano passado, sendo outubro o mês com a maior proporção: 66%. Desde dezembro, esse índice vem caindo, passando de 59% para 51% até o momento.

“As causas são multifatoriais, mas entendemos que as aglomerações são cada vez maiores. A sensação causada pela chegada da vacina levou parte da população a relaxar nos cuidados”, estima Gisele. Segundo ela, o aumento nas internações pode não estar associado à variante P.1, observada pela primeira vez no Amazonas, e mais infecciosa. “Estamos avaliando fazer um estudo genômico, mas por enquanto não temos nada definido”, adianta a médica do Moinhos de Vento. “Nos mais novos é uma mudança bem importante. (…) Então, se está aumentando a proporção de hospitalizados nesta população, esta faixa etária está se infectando mais que as outras. E estamos observando isso na Unidade de Pronto Atendimento Moacyr Scliar. É a faixa etária mais atendida na UPA. Então está mais associado ao comportamento das pessoas com estas idades”, explica, lembrando que uma variante não poupa nenhuma faixa etária.

Rodrigues defende que esse tipo de levantamento é importante para que se definam políticas de enfrentamento à doença, e para que as instituições se preparem de forma adequada. “Esse tipo de monitoramento é importante para previsões de ocupações de leito, tentando sempre detectar o mais precocemente possível as mudanças, para os ajustes necessários na rede de saúde visando garantir assistência à população”, finaliza.