Embora com precauções, cidades “livres” da Covid no RS vivem rotina próxima do normal

Em um mês, cresceu 18,06% o número de municípios com diagnósticos positivos do novo coronavírus

Foto: Guilherme Almeida/CP

Cerrito, Linha Nova, Capão Bonito do Sul e Mato Queimado anunciaram, nesta quinta-feira, os primeiros casos de Covid-19, 145 dias após a confirmação do primeiro paciente oficialmente infectado pelo novo coronavírus no Rio Grande do Sul. Com isso, o total de municípios que ainda não identificaram nenhum caso caiu para 42, o que representa 8% do total de cidades gaúchas. Embora com precauções, esses locais ainda vivem rotina próxima do “normal” (veja abaixo os relatos de Aceguá e Sinimbu).

Em um mês, cresceu 18,06% o número de municípios com diagnósticos positivos do novo coronavírus. Em 23 de junho, eram 382, com 20.864 casos confirmados e 477 mortes. Até a noite desta quinta-feira, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) havia contabilizado casos em 455 cidades, totalizando 54.841 casos e 1.456 óbitos (número que, conforme a Rádio Guaíba, já chega a 1.489).

O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeito de Taquari, Maneco Hassen, lamenta. “A cada balanço da SES temos novos municípios registrando casos da Covid-19, o que demonstra a preocupação que temos com o que estamos passando”, salienta.

A população das cidades que ainda não contabilizam casos do novo coronavírus varia entre 1,3 mil e 11,7 mil habitantes. “O município pequeno, com uma vida diária diferente dos grandes centros e que por sua natureza já pratica o distanciamento e as medidas de prevenção. São comunidades menores e de pessoas conhecidas, que conseguem ainda ficar afastadas da pandemia, mesmo no ritmo que ela está em outras cidades”, compara Hassen.

Além disso, ele reitera que os prefeitos vêm trabalhando “mais firmes ainda” para impedir que o vírus chegue até as cidades. “Todos vêm fazendo um trabalho excelente de prevenção nesse sentido, esperamos que esse número permaneça como está e que os outros municípios, com um ou dois casos, possam curar essas pessoas e não registrar novos, para que possamos diminuir essa curva”, declara, reforçando que até o momento, o Rio Grande do Sul, no entendimento da Famurs, conseguiu suportar “relativamente bem” a pandemia do novo coronavírus.

Outra estratégia dos prefeitos é a barreira sanitária, realizada com o objetivo de monitorar quem entra e quem sai do município. “Na maioria deles, é possível de se fazer”, complementa Hassen. A higienização constante dos espaços públicos também está entre as medidas mais adotadas pelas prefeituras dos municípios sem casos de Covid-19.

O desafio agora, segundo Maneco Hassen, é seguir controlando a disseminação do vírus e ampliar as ações de combate à pandemia. “Temos uma demanda elevada pela ocupação de leitos, novos casos e cada vez mais óbitos, é preciso que estejamos em alerta”, pontua o prefeito. Ainda sobre as regiões sem registro do novo coronavírus, Hassen lembra que a maioria dos municípios do Rio Grande do Sul não dispõe de hospital próprio e conta somente com Unidades Básicas de Saúde.

Cidades “livres” da Covid-19 vivem rotinas próximas do normal
A cidade de Aceguá, no Sudoeste gaúcho, com 4.901 habitantes e situada na fronteira do Brasil com o Uruguai, está entre as 42 que não apresentaram nenhum caso de Covid-19 até o momento. O prefeito Gerhard Martens (PSDB) lembra que não foi necessário restringir atividades econômicas, nem mesmo o comércio. Além disso, os horários não foram reduzidos, justamente porque no entendimento de Martens, quanto menor for o intervalo de funcionamento das lojas, maior a aglomeração de pessoas nesses locais.

“Temos o comércio funcionando, desde o início não fechamos, deixamos aberto das 8h às 12h e das 14h às 21h, a minha filosofia sempre foi que, se eu restringir muito o horário, eu vou acumular as pessoas”, explica. Mesmo com a rotina seguindo muito próximo do normal, Martens comenta que a aceitação da população sobre o uso de máscara foi praticamente unânime, o que também reduz o risco de contágio.

Até a tarde desta quinta-feira, Aceguá tinha dois casos suspeitos do novo coronavírus, mas ainda sem confirmação. Uma situação que, segundo Martens pode ter ajudado a cidade a não ter registrado casos da Covid-19, é o fato de que 75% dos habitantes vivem em zona rural. “Isso já facilita, porque temos um isolamento natural das pessoas que vivem no campo”, enfatiza.

Mesmo com a situação teoricamente sob controle, Martens reitera que as equipes de fiscalização da Prefeitura saem às ruas diariamente para evitar aglomerações. O fato de a cidade estar na fronteira com o Uruguai também preocupa. “Muitas pessoas vão pra lá ou vêm do Uruguai pra cá, estamos apostando na vacina, que venha logo e que a gente não tenha nenhum caso até lá”, reitera.

Em Sinimbu, no Vale do Rio Pardo, a prefeita Sandra Marisa Roesch (DEM) considera que os 10.172 de habitantes entenderam a importância de seguir os protocolos do Ministério da Saúde quanto à prevenção para a Covid-19. Segundo ela, o fato de 80% dos habitantes da cidade estarem concentrados na zona rural também acaba favorecendo o distanciamento social.

De acordo com Sandra, as aglomerações que eram vistas aos finais de semana, principalmente em praças e no comércio, não vêm ocorrendo. Os bancos de rua e em frente das lojas foram interditados pela Prefeitura. Através da montagem de barreiras sanitárias, agentes da saúde também orientaram a população sobre as medidas de prevenção.

Nessa semana, oito casos suspeitos foram descartados em Sinimbu. Mesmo com nenhum caso da Covid-19 contabilizado, Sandra reitera que a preocupação é muito grande. “A onda do frio deve voltar, os sintomas gripais são muito parecidos, mas esperamos que passe logo isso. Devemos seguir em frente, pensando positivo e que tudo vai melhorar e passar logo”, ressalta.