Em mais um recorde, UTIs de Porto Alegre atendem 160 pessoas com sintomas de coronavírus

Dessas, 137 já tiveram a doença confirmada

Foto: Alina Souza/CP

Mais um recorde de internações em UTIs, de pacientes com sintomas de Covid-19, se registrou, na noite deste domingo, em Porto Alegre. Desses, 137 já tiveram a doença confirmada e 23 eram considerados suspeitos da doença. A maioria (55,62%) ocupa leitos de UTI nos hospitais de referência para atendimento do novo coronavírus na cidade: Hospital de Clínicas, que trata 52 casos confirmados de Covid e sete suspeitos, e Hospital Nossa Senhora da Conceição, que registra a internação de 27 confirmados e três casos suspeitos de coronavírus.

Entre 26 de maio e 28 de junho, o número de pacientes com diagnóstico positivo para a Covid em UTIs adulto de Porto Alegre cresceu 218,6%, passando de 43 para 137. A partir do dia 10, as internações começaram a subir consideravelmente. Desde o dia 22, o número de confirmados internados se mantém acima de 100. Entre todas as enfermidades, a ocupação de UTIs é de 75,63%, na noite de hoje. Entre as 537 pessoas internadas, 29,7% tinham quadro confirmado ou suspeito para o novo coronavírus.

Ocupação de 69,1% no RS

Em nível estadual, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a taxa de ocupação dos 2.128 leitos de UTI adulto do Rio Grande do Sul, até a tarde deste domingo era de 69,1%. Entre os 1.470 pacientes internados em UTI adulto, 340 tinham diagnóstico positivo da Covid-19 e 157 eram considerados suspeitos, somando 497 vagas (33,8% do total).

Diretora-presidente do Clínicas defende isolamento social

A diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Nadine Clausell, afirmou que a instituição trabalhou preventivamente para estar entre os hospitais de referência para atendimento de pacientes com a Covid-19. “Tivemos um tempo para preparar e colocar as coisas em operação, fomos contratando pessoas também, mas isso não é fácil, não há tanta gente no mercado. O período entre março e abril, quando tivemos a curva mais achatada, foi importante para que a gente se organizasse e cumprisse essa missão, que é a de estar atendendo um grande contingente”, ressaltou.

De acordo com Nadine, mesmo com a preparação prévia tanto do Clínicas, quanto dos outros hospitais, o que ocorre é um reflexo que coincide com as medidas de relaxamento do distanciamento. “Começaram a subir os casos de uma maneira muito rápida e só há uma maneira de isso diminuir. Isso está diretamente associado ao aumento da circulação de pessoas. Apesar de acharem que sou polêmica, sou muito técnica e não falo em ideologias, o Clínicas é um hospital baseado em números e evidências, enquanto isso não reduzir de maneira significativa, vamos continuar tendo novos casos e novas internações”, assinalou.

Além disso, segundo Nadine, é preciso atentar para a sazonalidade, ou seja, a chegada do inverno e as complicações respiratórias no Sul. “Era previsto que houvesse um período muito crítico aqui ao redor do mês de julho, o nosso papel ali na frente é atender as pessoas rapidamente, dar o melhor suporte possível e salvar vidas. E que a gente saia dessa pandemia com o menor número de óbitos e de pacientes com sequelas, porque é uma coisa bem séria”, reiterou.

Sobre as internações, Nadine ainda destacou que um leito de UTI não é apenas uma cama, pois exige ventilador, bombas de infusão e cada paciente com o novo coronavírus, por exemplo, precisa de medicamentos contínuos, controle do tempo de ventilação mecânica, além de hemodiálise na beira do leito. Fora os equipamentos, Nadine ainda comentou que é preciso contar com uma equipe multidisciplinar nesses atendimentos, envolvendo profissionais como médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas e assistentes sociais, por exemplo.

“Fazemos reunião virtual todos os dias para controlar estoque de medicamento, de material, de pessoal”, explicou. A gestora ainda ressaltou que é preciso ter um cuidado especial com relação à proteção dos profissionais, para que os leitos de UTI possam funcionar plenamente. “Também precisamos estar atentos para as pessoas afastadas por testarem positivo para a Covid-19. Isso reduz a equipe em operação, atualmente temos cerca de 100 profissionais afastados da linha de frente por estarem contaminados”, declarou.

Com relação à alta constante no volume de internações, Nadine comentou que os primeiros meses da pandemia na região, entre março e abril, talvez “tenham nos iludido um pouco, achamos que no Rio Grande do Sul não teríamos tanta repercussão”. “Fomos brandos quando teve que fechar, mas claro que sabemos das pressões políticas e econômicas. Agora para a gente medir o resultado das novas restrições, precisamos esperar pelo menos duas semanas, o que é angustiante, ainda não vimos nenhuma mudança aqui em Porto Alegre em termos de números, nos leitos de UTI continuamos vendo a subida e estamos preocupados”, reforçou.

Já o secretário-adjunto da Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, afirmou que o aumento das internações em UTI ocorre dentro das previsões. “A cada dia temos mais pessoas ocupando a UTI, a Prefeitura tomou as primeiras medidas ainda na semana retrasada, com o decreto que restringiu atividades do comércio e do serviço e de algumas empresas maiores, percebemos que não houve um impacto muito grande na mobilidade, tanto que na sexta-feira daquela semana tivemos a menor taxa de isolamento social na cidade desde o início da pandemia”, afirmou.

Conforme Katz, por conta disso foram publicados novos decretos, “exatamente porque vimos que essa questão do entendimento da sociedade sobre a necessidade de ficar em casa não estava funcionando bem”. “Agora com o fechamento escalonado feito durante a semana passada, começamos a ver impacto na redução da mobilidade, estávamos com cerca de 40% de isolamento e na quinta-feira chegamos a 45%, então a partir dessa redução da mobilidade, esperamos um resultado nos próximos dez a 14 dias”, ressaltou.