“Não faltam profissionais, mas a forma de contratação não é atrativa”, afirma o diretor-presidente do GHC

Desistência de profissionais nos processos seletivos se agravou após a pandemia e mais de 300 profissionais desistiram dos seus cargos hospitalares

Foto: GHC / Divulgação

A falta de profissionais para atuarem na linha de frente no combate ao Covid-19 está preocupando a Prefeitura de Porto Alegre e os gestores hospitalares da capital gaúcha. As novas medidas restritivas de circulação, que recentemente foram tomadas pelo prefeito Nelson Marchezan Jr., visam justamente evitar um colapso no sistema de atendimento emergencial à população em meio à pandemia. “Como fazemos parte da rede municipal de saúde de Porto Alegre, nós estamos em alerta porque tivemos um aumento significativo na ocupação das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs)”, afirmou o diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira.

Até as 8h30 desta quinta-feira (25), a UTI do Hospital Nossa Senhora da Conceição, que atende exclusivamente os pacientes com coronavírus, estava com uma ocupação superior aos 89%. Já as unidades de atendimento emergencial de pacientes com outras comorbidades estavam com 60% de ocupação. O grupo, através da reestruturação das suas quatro unidades hospitalares, ampliará o atendimento das suas UTIs especiais para o tratamento da Covid-19 em 50%.

Em entrevista ao Direto Ao Ponto, da Rádio Guaíba, na manhã desta quinta-feira (25), Oliveira lamentou que, apesar do aumento do número de leitos para o tratamento específico da doença, há falta de interesse dos profissionais nas vagas abertas pelo hospital para formação de equipes capacitadas na área. “Temos certeza que não faltam profissionais, mas a forma de contratação não é atrativa (contratos temporários)”, pontuou. “Nós tínhamos um processo seletivo agendado para o dia 10 de maio com mais de 20 mil inscritos, mas foi cancelado. Hoje, nós temos um processo seletivo com 50 profissionais inscritos. Todos serão chamados para atuar”.

Oliveira destacou, entretanto, que não é qualquer profissional da saúde que pode atuar em uma UTI especial da Covid-19 porque é necessário realizar treinamento específico sobre a doença e seus protocolos. “Os pacientes precisam de cuidados especiais. Eles não podem se misturar com outros, não podem ficar lado a lado, devem ser isolados em boxes e deve haver o uso perfeito dos Equipamentos de Proteção Individual pelos profissionais, como tocas, luvas, máscaras, aventais. Não podemos deixar permanecer a ideia de que os pacientes de uma UTI comum podem ficar juntos aos da Covid-19. Os pacientes de uma UTI normal já estão debilitados. Se misturar com os paciente com coronavírus, que possuem um alto índice de infecção, será um problema”, explanou.

O GHC também enfrenta problemas na evasão de profissionais que deixaram seus cargos após o início da pandemia. “Mais de 300 profissionais já desistiram dos seus cargos no hospital e, infelizmente, nós temos 64 afastados com suspeita ou confirmação da doença (o coronavírus)”, afirmou o diretor. Em média, na tenda que foi criada no complexo hospitalar para atendimento de pacientes com os sintomas do coronavírus , são feitos 150 atendimentos diários. Médicos e profissionais da saúde trabalham intensamente na triagem e controle de fluxo dessas pessoas para evitar um surto.

Segundo avaliação do gabinete de crise da instituição, sobre o que ainda iremos enfrentar nas próximas semanas em relação ao contágio do coronavírus no Rio Grande do Sul, os próximos 14 dias serão preocupantes. “Haverá uma subida real e significativa da curva (de infecção). Estamos todos muito apreensivos em relação ao futuro”, confessou Oliveira.

O aumento no número de pessoas contaminadas pela doença já era esperado pelos profissionais em decorrência das mudanças climáticas. O diretor, porém, garante que “vamos sair dessa diferentes e melhores. Teremos novas regras de convivência porque as pessoas estarão mais conscientes do seu papel. A atividade econômica, por exemplo, pode conviver, coexistir com a pandemia, mas a população precisa tomar consciência sobre a situação que nós vivemos e tomar as medidas necessárias.”