Procuradoria pede à PF inquérito contra Sérgio Camargo por racismo

Áudio de reunião aumentou pressão por investigação contra dirigente da Fundação Palmares que chamou movimento negro de "escória maldita"

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O Ministério Público Federal pediu, nesta sexta-feira, a abertura de inquérito para apurar se o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, cometeu crime de racismo em uma reunião com assessores.

Um áudio do encontro, obtido pelo jornal O Estado e S.Paulo, mostra que Camargo classificou o movimento negro como “escória maldita” que abriga “vagabundos” e chamou Zumbi de “filho da p* que escravizava pretos”. Camargo ainda se referiu a uma mãe de santo como “macumbeira” e prometeu demitir diretores da autarquia que não tiverem como “meta” a demissão de “esquerdista”.

O procurador Peterson de Paula Pereira deu 30 dias para que a Polícia Federal comece as investigações, que devem ser finalizadas no prazo de três meses. Os policiais vão ouvir o próprio Camargo e os auxiliares que participaram da reunião, além de periciar o áudio.

Na quinta-feira, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão encaminhou um ofício ao MPF pedindo uma investigação não somente por racismo, mas também por improbidade administrativa. Para o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, a conduta revelada nos áudios demonstra “possível desvio de poder” – tanto pela manifestação contrária do movimento negro, cuja atribuição legal da Fundação Palmares é proteger, quanto pela promessa de exonerar servidores com base em critério ideológico. A representação vai ser analisada pelo procurador Wilson Rocha de Almeida Neto, titular do 2º ofício de Cidadania, Seguridade e Educação.

De acordo com o Estadão, após a revelação dos áudios, dezenas de organizações de direitos civis, lideranças religiosas e entidades do movimento negro também enviaram representações ao MPF cobrando a abertura de um inquérito. Elas pedem ainda que seja instaurado procedimento para afastar o jornalista do cargo. O movimento é endossado por parlamentares do PSol, PSB, PT, PDT e PCdoB.

Discípulo do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, Camargo se autodomina no Twitter um “negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto, livre”.

Desde a posse, em novembro de 2019, algumas das declarações causaram revolta entre ativistas do movimento negro. Em 13 de maio, Camargo publicou artigos e usou as redes sociais para depreciar a memória de Zumbi dos Palmares, chegando a questionar a existência do líder quilombola – o que lhe rendeu uma representação por improbidade administrativa na Procuradoria da República no Distrito Federal. Em outras falas, disse ter “asco e vergonha da negrada militante”, afirmando se tratarem de “escravos da esquerda”.

Em um post recente, após o assassinato do segurança George Floyd – vítima da brutalidade policial norte-americana –, Camargo afirmou, por exemplo, que “nosso inútil movimento negro tenta importar para o Brasil os atos anarquistas e criminosos do Black Lives Matter, a antifa negra dos EUA”.