Advogada que teve casa invadida durante operação policial diz que ficou surpresa com a “truculência dos agentes”

OAB/RS pedirá providências após ação abusiva de policiais na residência de advogada

Foto: Lucas Pfeuffer - OAB/RS

A advogada de Campo Bom, Anália Goreti da Silva, que teve a sua residência invadida por policiais civis na última terça-feira, disse, em entrevista à Rádio Guaíba na manhã desta quinta-feira (04), que ficou surpresa com a truculência dos agentes na condução da operação. A advogada conta que a família foi surpreendida com o ingresso dos policiais sem apresentação de ordem judicial. Os agentes tinham a residência, no bairro Bela Vista, em Campo Bom, como alvo de buscas em uma ofensiva de combate ao tráfico de drogas.

“Eles começaram a entrar dentro de casa dizendo que estavam procurando drogas. E eu disse que nós não conhecemos drogas. Então, eu pedi o mandado e me apresentei como advogada. Eu pedi o mandado e eles começaram a revistar nossa casa. O policial disse para eu ficar quieta e não complicar”, relata.

Contudo, houve um equívoco da investigação, que definiu o endereço da casa como o local a ser abordado pelos servidores que agiram de forma autoritária e levaram medo à família de Anália. A partir da geolocalização de um aparelho de telefone celular apreendido com um traficante, na semana passada, eles se deslocaram para o endereço de onde teriam partido algumas mensagens. A partir dos dados do mandado de busca e apreensão, os policiais invadiram a casa da advogada. Eram cerca de dez policiais civis. Segundo relatos da comunidade, existe um ponto de compra e venda de tráfico de drogas na proximidade da residência.

Além dela, estavam em casa o marido e dois filhos. As marcas da violência na abordagem ficaram na porta, que foi danificada quando os policiais forçaram a entrada. A advogada esclareceu ainda que a família não foi vítima de injúria racial, mas que se surpreendeu com a condução da ação policial. “Se a Polícia faz isso na casa de pessoas que possuem representatividade, como não agem nas periferias?”, questiona a advogada.

Um dos familiares foi algemado, pois imaginou ser um assalto, e tentou se refugiar do que imaginava serem “criminosos”. Após cerca de duas horas, a advogada conseguiu fazer alguns contatos para tentar esclarecer o que estava ocorrendo. Depois disso, os policiais civis deixaram a residência.

Praticamente ao cabo da operação, os policiais apresentaram o mandado judicial. Anália então informou que ninguém da família teria ouvido o chamado dos agentes. Imagens de câmeras de monitoramento do lado de fora da residência mostram a “invasão” dos policiais civis.

“Ao final, quando me apresentaram o mandado, eu questionei que eles não se apresentaram. Eles disseram que sim, mas que em razão dos latidos dos cachorros, não teríamos ouvido. Nas imagens, isso não consta”, afirma Anália da Silva.

Contraponto

A Delegacia Regional de Pelotas, no Sul do Estado, abriu uma investigação para apurar a condução e conduta dos agentes que participaram da ação na residência da advogada. Em entrevista à Rádio Guaíba o delegado Márcio Steffens, responsável pela Delegacia Regional de Pelotas, afirmou que em momento algum os policiais taxaram a advogada ou a família de culpados. O delegado ressaltou, ainda, que não houve engano em relação ao endereço mas que o cumprimento do mandado de busca e apreensão é apenas mais uma ferramenta para a investigação. “Nós tínhamos um mandado de busca e apreensão para aquele endereço. Então não houve um erro de endereço. E quanto o envolvimento ou não desse local com o tráfico de drogas isso está dentro da investigação que deu origem a esse mandado. Agora nós vamos fazer esse outro procedimento para verificar se houve algum excesso, abuso ou violência”, explica.

Na visão do delegado não houve truculência na ação. “Nós respeitamos o posicionamento dela, mas na hora do cumprimento do mandado se avalia uma série de questões. Eles podem ter chamado e os moradores não tenham ouvido”, afirma o delegado Márcio Steffens.

OAB pede providência

O presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, manifestou indignação com o caso, pois, mesmo com Anália se identificando aos policiais como advogada e solicitando a presença de representantes da subseção da OAB, o direito lhe foi negado. “Ainda temos muitos abusos de autoridade em nosso país. Existem prerrogativas da advocacia que devem ser respeitadas. Nesse caso, foi ignorado”, salientou. “Vamos acompanhar o andamento da ocorrência e do processo administrativo. É preciso ter punição para que casos assim não se repitam”, salientou Breier.