Equipes de pesquisa da UFPel são agredidas e detidas pelo país

Reitor da UFPel, Pedro Hallal, disse que prefeitos estão agindo como "xerifes" ao impedir trabalho de pesquisadores em diversas cidades do país

Pesquisa da UFPel recebeu autorização do Ministério da Saúde | Foto: Daniela Xu/UFPel
Foto: Daniela Xu/UFPel

A divulgação dos dados da pesquisa nacional sobre a velocidade de expansão da Covid-19 no Brasil irá atrasar. A realização do estudo de campo, liderado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com o Ministério da Saúde e Ibope, sofreu uma série de intercorrências pelo país neste final de semana. Equipes de, aproximadamente, 40 das 133 cidades do levantamento tiveram o trabalho impedido de diversas maneiras. Em alguns lugares, prefeitos e secretários da Saúde não autorizaram a realização das entrevistas e testes rápidos de coronavírus. Em outros municípios, os entrevistadores foram agredidos pela população e até detidos.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, houve prisões em cidades do Pará, Espírito Santo, Maranhão, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Goiás, Santa Catarina e Mato Grosso. Em Mossoró (RN), pesquisadores foram agredidos pela população, que os acusava de violar o confinamento social. A falta de autorização de prefeituras, segundo a Folha, ocorreu em 42 municípios.

UFPel lamenta incidentes

O reitor da UFPel confirmou os ocorridos à Rádio Guaíba. Pedro Hallal criticou a postura de algumas autoridades que, segundo ele, se portam como “xerifes” impedindo o trabalho dos entrevistadores. O professor relembrou que o estudo conta com autorização do Ministério da Saúde e obteve o parecer positivo da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. “Os secretários e prefeitos dessas cidades estão impedindo que a pesquisa aconteça. Estão atrapalhando a ciência brasileira e prejudicando aquele que hoje é o maior estudo do mundo sobre Covid-19”, lamentou Hallal.

A coleta de dados da pesquisa, prevista para encerrar neste domingo (17), deve ser concluída apenas na terça-feira (19). O reitor Pedro Hallal ressaltou que todos os entrevistadores selecionados foram submetidos a exames e testaram negativo para o novo coronavírus. Além dos ataques, muitos profissionais foram assaltados, confirmou o professor. “Agressões e assaltos aconteceram muito esporadicamente”, relatou.

Bons exemplos

Apesar dos problemas, Pedro Hallal destacou que muitos municípios estão contribuindo para o andamento da pesquisa. No Rio Grande do Sul, o reitor da UFPel citou o caso de Uruguaiana como exemplar. Já no restante do Brasil, Manaus foi a primeira cidade a encerrar a coleta de dados. “A sensibilidade da prefeitura, que entende a gravidade do momento, a importância dos dados da pesquisa”, elogiou Hallal.

As cidades com o menor grau de entrevistas e testes pendentes são Petrolina (PE) e São Luís (MA), que não realizaram nenhum exame até a tarde deste sábado. Na outra ponta, a pesquisa já foi concluída nos municípios de Parintins, Manaus e Lábrea (AM); Barreiras (BA); Vitória (ES); Patos de Minas (MG); Uruguaiana (RS); e Cascavel (PR).