Três ministros depõem à PF: veja o que disse cada um deles

Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno minimizaram denúncia de Moro, de que Bolsonaro tenha tentado interferir na PF

Foto: Marcelo Casall Jr. / Agência Brasil / Divulgação

Três ministros generais prestaram depoimento à Polícia Federal (PF), nesta terça-feira, no âmbito do inquérito que investiga se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na corporação. Todos foram apontados pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, como testemunhas no processo, aberto pelo Supremo Tribunal Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República.

Walter Braga Netto, da Casa Civil, afirmou que Bolsonaro havia se queixado sobre não terem sido esclarecidos por completo os fatos relacionados ao porteiro do condomínio dele, citado no inquérito sobre a morte da vereadora Marielle Franco. O ministro também disse que tentou acalmar Sérgio Moro e evitar o pedido de demissão, confirmando a versão dada pelo ex-ministro.

No depoimento, o ministro relatou ter tentado convencer Moro a manter um canal de comunicação aberto sobre a intenção de Bolsonaro de trocar a direção da Polícia Federal. Netto também pontuou que Moro não tentou buscar “uma solução intermediária” junto a Bolsonaro para a saída de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da PF.

O ministro também afirmou que o presidente da República revelou a intenção de trocar a “segurança no Rio de Janeiro” e que entendeu que essa era uma referência a segurança pessoal dele. Netto falou durante quatro horas, até o início da noite.

Em outras salas, também no Palácio do Planalto e no mesmo horário, depuseram os ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional.

Ramos falou durante sete horas à PF. Ele afirmou que a intenção do presidente em trocar o comando da corporação era ter “sangue novo” no órgão. De acordo com o ministro, Bolsonaro se “ressentia da quantidade de operações e relatórios” que a PF vinha produzindo em todo o país. O ministro também negou que o presidente tenha afirmado, diante da equipe, em 22 de abril, a intenção de trocar o diretor-geral e o superintendente da PF no Rio de Janeiro.

O general ainda relatou que tentou mediar uma solução para evitar a demissão de Moro, e que o ministro apresentou o então diretor-executivo da PF, Disney Rosseti, como único nome aceitável em uma eventual troca de comando.

Já Heleno depôs por quase cinco horas, nesta terça. Ele afirmou que considera “natural” que o presidente da República queira optar por uma pessoa próxima para exercer o cargo de diretor-geral da PF.

A fala se referia à indicação de Bolsonaro, que queria ver o atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, assumir o comando da PF. O ministro disse que, “na visão do presidente”, Ramagem tinha capacidade de “dar um novo ânimo à Polícia Federal”.

Heleno reconheceu a proximidade de Ramagem com a família do presidente e classificou o bom trabalho desempenhado pelo delegado à frente da Abin como “excepcional”. De acordo com o ministro, os relatórios que Bolsonaro pedia à PF “envolviam matéria de polícia judiciária objeto de inquéritos policias sigilosos”. O ministro garantiu ainda que o presidente “nunca solicitou dados específicos de investigações em curso”.

Hoje pela manhã, Moro, representantes da AGU, da PGR e do STF assistiram à gravação da reunião ministerial de 22 de abril, apontada pelo ex-ministro, em depoimento, como prova das intenções de Bolsonaro de interferir na PF.

Ontem já prestaram depoimentos o ex-diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, além de Alexandre Ramagem, atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e um dos indicados por Bolsonaro para substituir Valeixo, mas barrado pelo STF, e o ex-superintendente da PF no Rio de Janeiro Ricardo Saad.