Enquanto autoridades ligadas à área da saúde em todo o Brasil e no mundo tomam providências para conter a disseminação do coronavírus e amenizar os impactos, a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul mantém o atendimento presencial nas 250 inspetorias de defesa agropecuária no interior do Estado. Isto porque na segunda-feira, mesma data em que a recomendação passou a ser o isolamento social, iniciou também a campanha de vacinação contra a febre aftosa, antecipada em função de uma possível evolução do status sanitário, condição que abrirá novos mercados.
Tradicionalmente, em época de vacinação, a inspetoria de defesa agropecuária é um dos pontos de maior aglomeração nos municípios. Considerando que o agravamento da situação em relação ao coronavírus coincidiu com o início da campanha, a Associação dois Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro) alerta que manter as portas das inspetorias abertas para atender a demanda em relação à aftosa é um contrassenso que coloca em risco a saúde e a vida dos servidores, de seus familiares, dos produtores e de toda a sociedade. É um descaso que vai totalmente na contramão da recomendação nacional e mundial em relação ao isolamento social para evitar a contaminação.
Preocupados com o prazo, os produtores, muitos deles idosos, estão saindo de casa para comprovar a vacinação do rebanho. O trabalho diário dos servidores da defesa agropecuária, que cuidam da sanidade e da qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal que chegam para os consumidores, está diretamente relacionado com a saúde pública. Este é o papel e a contribuição dos servidores da Agricultura, juntamente com os da Saúde. Não podemos, de forma alguma, concordar com esta situação e contribuir para a disseminação do coronavírus.
Ao longo de toda a terça-feira (17/3), a diretoria da Afagro buscou, sem sucesso, informações sobre medidas preventivas junto ao gabinete do secretário Covatti Filho e também junto às chefias. Isto porque a entidade recebeu muitas informações, vindas do interior, sobre a concentração de pessoas nas inspetorias. Conforme divulgado pela imprensa nesta quarta-feira (18/3), o titular da pasta garantiu que o coronavírus não afetará a campanha da vacinação contra a febre aftosa. Tal declaração demonstra que a preocupação primeira é atender aos interesses econômicos do Estado.
Até o momento, os servidores da Secretaria da Agricultura apenas receberam a orientação de fazer a distribuição de fichas (senhas) para evitar aglomerações nas inspetorias de defesa agropecuária, porém seguem trabalhando normalmente. Contudo, a tendência é que os produtores se desloquem até as inspetorias para saber o que está ocorrendo. Agrava a situação a ausência de produtos de higiene e limpeza. Muitos municípios não têm sequer sabonete para que os servidores possam higienizar corretamente as mãos, tampouco álcool gel. Neste momento, para evitar a circulação e reduzir a circulação de pessoas, tanto nas inspetorias quanto nas agropecuárias, onde a vacina é comercializada, a medida mais urgente e prudente é suspender, por pelo menos 15 dias, a campanha de vacinação.
Outra questão preocupante é a exposição dos servidores que realizam as inspeções sanitárias em plantas frigoríficas. Nestes casos, as aglomerações são inevitáveis e os ambientes são insalubres e propícios para a propagação de vírus. Na maioria dos casos, estes colegas trabalham sozinhos e sem possibilidade de revezamento. Sendo assim, a Afagro sugere que, pelo menos neste primeiro momento, haja uma redução nas jornadas de trabalho nas plantas, para diminuir o fluxo e a aglomeração de pessoal, mantendo apenas o mínimo necessário de atividade para manutenção e para que tanto os trabalhadores das plantas, quanto o serviço de fiscalização e inspeção, permaneçam o menor tempo possível em contato social.