Segundo a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira sobre práticas de consumo divulgada nesta terça-feira (14) pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), 71% dos consumidores brasileiros esperam por promoções e saldões para comprar bens de maior valor, como eletrodomésticos, móveis, celulares, eletrônicos e automóveis. Em 2013, o percentual era de 64%.
O levantamento revela que, quanto menor a renda familiar, maior o costume de esperar por condições especiais ou preços mais atraentes. De acordo com a pesquisa, 75% dos brasileiros com renda familiar de até um salário mínimo esperam um saldão, enquanto o percentual entre os consumidores com renda superior a cinco salários mínimos é de 60%.
Os números também revelam que 93% dos consumidores costumam pesquisar os preços dos bens de maior valor antes de realizar a comprar, enquanto que 80% vão atrás das características técnicas desses itens.
De acordo com a pesquisa, o preço, a qualidade e a marca do produto são considerados os fatores mais importantes na hora de adquirir bens de maior valor. Por outro lado, os fatores apontados como menos importantes para a compra são a propaganda, o design e a novidade.
Para Renato da Fonseca, gerente de pesquisa e competitividade da CNI, essa percepção maior do consumidor no que diz respeito à preço, produto, qualidade e o que vai acontecer depois da compra vem, em partes, da crise econômica. “Com a crise o consumidor tem que fazer valer a renda da família. As famílias que tiveram algum integrante que perdeu o emprego tiveram que apertar o orçamento, e isso faz com que eles acabem fazendo mais pesquisas, olhando mais os preços, vendo se é realmente vantajoso”, explica.
De acordo com ele, essa mudança no comportamento de consumo vem aliada do maior acesso a informação, proporcionada por uma sociedade integrada à tecnologia. “Hoje em dia fazer pesquisa de preço ou de qualidade do produto é muito mais fácil. Com celular ou computador, o consumidor consegue rapidamente ter uma noção de onde achar um preço melhor”, afirma o gerente.
Os dados da pesquisa da CNI apontam ainda que a quantidade de consumidores que se importa com a garantia e os serviços de pós-venda aumentou de 65%, em 2013, para 74%, em 2019.
Entre os brasileiros com renda familiar de até um salário mínimo, 78% tem o costume de buscar informações sobre garantia e serviços de pós-venda. O percentual diminui conforme a renda familiar cresce – 69% dos brasileiros de famílias que recebem mais de cinco salários mínimos têm o hábito de pesquisar por esses aspectos antes da compra.
Processo irreversível
Para de Fonseca, mesmo com a economia se recuperando, com empregos sendo gerados e as pessoas recuperando um padrão de renda melhor, o costume de pesquisar por condições melhores de consumo é um processo irreversível. “O consumidor começou a perceber a vantagem de fazer mais pesquisa, esperar por promoções e não ter um consumo imediato. Então acho difícil que você mude esse comportamento, principalmente nos produtos de maior valor agregado”, conta o gerente de pesquisa e competitividade da CNI.
“O celular, por exemplo, é um produto muito útil, mas muito caro. As pessoas certamente vão ter mais o costume de esperar o momento adequado de fazer a compra, de escolher o melhor modelo, de pesquisar bem os preços e obviamente se preocupar com o quanto ele vai gastar se aquele produto der um problema lá na frente. Ver qual é a garantia, qual é o serviço pós-venda, etc. Eu diria que isso é um processo irreversível, não tem volta, e as empresas vão ter que se adaptar a isso. Olhar para a qualidade do produto e qualidade de atendimento, principalmente após a venda”, completa.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas