Em carta, autor de pedido de impeachment de Marchezan revela que dois progressistas elaboraram documento

Biólogo justifica ter agido como "mero signatário". Legenda rebate acusações

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Cercado de polêmica, o quarto pedido de impeachment contra o prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB), negado pela Câmara Municipal em 2019, teve como supostos mentores dois progressistas, ex-aliados do tucano. É o que garante o biólogo Claudio Francisco Mota Souto, ex-filiado ao PP, que assinou carta divulgada, nessa segunda-feira, onde revela ter agido como “mero signatário, sem ter participado minimamente de sua elaboração”. A carta chegou ao presidente da Câmara, vereador Reginaldo Pujol (DEM) e ao presidente da CPI que investiga supostas irregularidades no governo Marchezan, Roberto Robaina (PSol).

A queda de braço entre Marchezan e os progressistas, motivada pela alegada falta de diálogo e pelas discordâncias em torno da planta de IPTU, já havia levado o prefeito a romper com a legenda – do vice-prefeito Gustavo Paim -, em início de julho.

Nos bastidores, as informações checadas apontam que os mentores do processo foram um ex-diretor administrativo da Câmara, nomeado pelo PP, e um tesoureiro municipal do partido. Na carta, Souto cita o nome do vereador Ricardo Gomes (PP) dizendo ter sido orientado a assinar as denúncias por alguém que se dizia assessor jurídico do parlamentar.

Procurado, Ricardo Gomes negou envolvimento no caso e explicou que o trabalho jurídico, na equipe dele, é realizado por uma mulher, e não um homem. “Ninguém da minha equipe participou da elaboração desse pedido de impeachment. A maior prova está no painel da Câmara”, esclarece o vereador, um dos ausentes na votação em plenário.

Em nota, o vice-presidente municipal do PP, Ronaldo Napoleão, frisa que a carta não menciona a sigla diretamente. “O Partido Progressista sequer foi citado, como Instituição, por qualquer forma, por aquele que foi signatário do pedido de impeachment do Prefeito Nelson Marchezan. Por essa razão, nenhuma manifestação tem a fazer sobre o tema, apenas lamentando que mais importante que o conteúdo do pedido, parece ser a sua forma. E eventuais participações de filiados ou ex-filiados, sem cometer qualquer ilegalidade, são de responsabilidade pessoal dos mesmos…”, rebate.

A decisão, supostamente tomada à revelia pelos progressistas, desagradou o presidente estadual da legenda, Celso Bernardi. No Palácio Piratini, o PP trabalha coligado com o PSDB, do governador Eduardo Leite. No núcleo do partido, o sentimento é de que as rusgas no cenário municipal não vão refletir na governabilidade estadual.

Em 26 de agosto, a Câmara de Vereadores arquivou o quarto pedido de impeachment contra o prefeito. Foram 22 votos contrários, 11 a favor e duas ausências em plenário. Dois dos quatro vereadores do PP votaram contra, um se ausentou e um não votou (a presidente da Câmara, Mônica Leal). Em função das denúncias, porém, a Câmara abriu uma CPI para investigar a gestão de Marchezan. Em quase 200 páginas, Souto elencou nove irregularidades supostamente cometidas na gestão tucana, como prática de nepotismo e irregularidades em contratações do Banco de Talentos.