Indicadores e perspectivas para a cadeia do leite em 2020 foram debatidos nesta quinta-feira, na Câmara do Leite, em evento promovido pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). O encontro foi realizado no Hotel Deville Prime, em Porto Alegre (RS), e trouxe na pauta ainda as alterações nas Instruções Normativas 76 e 77 e os indicadores do preço do leite pago ao produtor. Participaram das discussões representantes de entidades, cooperativas e indústrias ligadas ao setor.
O pesquisador Sérgio De Zen, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), iniciou a programação apresentando um painel do trabalho realizado pela instituição desde 2004 para elaboração de indicadores ponderados. Ele salienta que 2019 foi um ano que marcou uma virada na dinâmica e qualidade dos dados, com a implementação de indicadores semanais de leite em pó. “É um dos melhores sistemas de informação do mundo, que representam dados reais e possíveis de auditar”, destacou. A também pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, mostrou diversos modelos de indicadores e salientou a importância das empresas repassarem seus preços e estoques para composição dos números. “Tem espaço para evoluir, especialmente no que se refere a valores ponderados, mas significa muito o fato de termos informes diários desde 2010, é uma luz para quem está gerenciando seus negócios”, avaliou.
No segundo momento, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Glauco Carvalho, abordou as perspectivas para a cadeia do leite. O especialista apresentou um cenário de produção e oferta mundial do setor em 2019, avaliando que a produção global está muito fraca em termos de expansão. Entretanto, a demanda chinesa está aquecida e vem segurando as cotações internacionais. “São preços que acabam gerando uma distorção que estimula a produção em todo o mundo, mas são valores bem interessantes”, justificou.
Em relação ao Brasil, Carvalho lembrou que o segundo semestre foi marcado por forte alta no custo de produção com a evolução das cotações do milho e da soja. Itens como a produção e compra de volumosos, concentrados e sal mineral também implicaram em altas no custo de produção. Sobre o preço do leite ao produtor, a média de valores entre janeiro e novembro deste ano está 4,65% acima do patamar médio para o período, fechando em R$ 1,42 o litro média Brasil. “No ano de 2019 as cotações foram melhores do que o valor pago na média histórica. O cenário para 2019 foi bom apesar dos problemas de custos”, observou.
Em relação à balança comercial do setor lácteo, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite reforçou que o volume importado é inferior ao do ano passado e a exportação também não evoluiu. “Se olharmos a balança comercial, tivemos aumento nas importações em novembro, mas a competitividade do produto importado ainda está baixa”, afirmou. No atacado, Carvalho enfatizou que apesar de subirem lentamente, há algum movimento nos preços dos derivados. “O problema ainda é o leite UHT, que depende de uma expansão maior de renda para puxar um volume mais expressivo de consumo”, complementou acrescentando que há uma dificuldade de repasse destes valores ao consumidor.
Com uma expectativa de crescimento econômico ainda tímido, em 2,17%, mas sendo o melhor dos últimos seis anos, com previsão também do aumento do emprego formal, o especialista avalia que o próximo ano. “Viemos crescendo a taxas menores, mas crescendo. Começamos a ter um fôlego com uma retomada da economia do Brasil”, explicou. Em relação ao preço do leite ao produtor, Carvalho projeta um valor médio do leite mais elevado em 2020, mais alinhado ao padrão sazonal, chegando a uma média de R$ 1,48 o litro no país, 4,5% acima da média de 2019.