Lula defende que PT dispute todas as cidades possíveis e descarta “autocrítica”

Sobre críticas de Ciro, ex-presidente evitou polemizar, mas disse que o partido "não vai se encolher"

Foto: Ricardo Stuckert / Workers Party (PT)

No primeiro pronunciamento dirigido ao PT desde que deixou a prisão, há uma semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quinta-feira, que o partido “não precisa fazer autocrítica” e deve lançar candidatos em todas as cidades possíveis nas eleições de 2020. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

“O PT não nasceu para ser partido de apoio”, disse ele durante a Executiva Nacional do PT, em Salvador, em resposta às discussões sobre se os petistas devem compor candidaturas de outras legendas de esquerda.

Um ano e sete meses após ser preso na Operação Lava Jato para cumprir pena de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do triplex do Guarujá, o ex-presidente deixou há uma semana a cela especial da Polícia Federal em Curitiba.

Lula se beneficiou da decisão do Supremo Tribunal Federal, que, por 6 votos a 5, declarou inconstitucional a prisão de condenados em segunda instância. Um dos processos que envolve o petista já chegou à terceira instância, mas o entendimento da Suprema Corte é de que se aguarde o trânsito em julgado, quando não há mais como o réu recorrer.

Em abril, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a condenação, mas reduziu a pena de Lula, no processo sobre o triplex no Guarujá (SP), para 8 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão.

Nesta quinta, acompanhado da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, e de Fernando Haddad, candidato derrotado à Presidência em 2018, Lula voltou a atacar a condução da economia, numa demonstração do que deve ser o mote da atuação dele na oposição.

O ex-presidente criticou medidas recentes do governo de Jair Bolsonaro, como a MP do programa Verde e Amarelo, a reforma tributária e o leilão da Petrobras. “Agora, estão querendo taxar até o salário-desemprego, criar emprego onde o cara não vai ter nenhum direito. É quase voltar ao tempo da escravidão.”

Ao falar de 2022, Lula afirmou que pode voltar a subir a rampa do Palácio do Planalto – ele está inelegível, enquadrado na Lei da Ficha Limpa – “levando Haddad, Rui (Costa, governador da Bahia) e outros companheiros”. “O PT não nasceu para ser um partido de apoio. Vamos lançar candidaturas em todas as cidades que for possível.”

O ex-presidente também negou a necessidade de o partido fazer uma autocrítica. “Tem companheiro do PT que fala que tem que fazer autocrítica. Faça você a crítica. Eu não vou fazer o papel de oposição. A oposição existe para isso.”

Presidenciáveis

Durante um discurso de pouco mais de uma hora, feito de improviso, Lula citou, com críticas e ironias, Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador de TV Luciano Huck – cotados como possíveis candidatos à Presidência em 2022.

Ele também minimizou as declarações do ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Durante palestra em São Paulo, na segunda-feira passada, o pedetista reiterou várias críticas ao ex-presidente, a quem chamou de “encantador de serpentes”. “Não quero ficar polemizando com o Ciro. Ele foi leal comigo no governo, tive uma boa relação com o Ciro. Agora, dizer que o PT deveria ter saído (das eleições do ano passado) para apoiar ele… Você acha que o Bahia vai jogar com o Vitória e amolecer? Não podemos aceitar que tentem nos diminuir (…) O partido não vai se encolher”, disse Lula.