Violência doméstica: ministro do STJ teme atraso de processos com fim de prisão em 2ª instância

Ministro Rogério Schietti Cruz citou sensação de impunidade, mas ponderou que prisões cautelares ainda poderão ser impostas.

Ministro Schietti Cruz (C) participou de seminário sobre violência doméstica no Ministério Público | Foto: Gustavo Chagas/Rádio Guaíba
Ministro Schietti Cruz (C) participou de seminário sobre violência doméstica no Ministério Público | Foto: Gustavo Chagas/Rádio Guaíba

O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogério Schietti Cruz participou de um debate sobre a Lei Maria da Penha em Porto Alegre. Atuando no terceiro grau de jurisdição, o magistrado comentou a possibilidade do fim da prisão em segunda instância no combate à violência doméstica. Para o ministro, o tempo dos processos deve aumentar, provocando sensação de impunidade. Schietti Cruz ressaltou que a jurisprudência atual reduziu o tempo de tramitação das ações. “As penas que são confirmadas por um Tribunal de Justiça, em segundo grau, já podem ser executadas”, pontuou.

O ministro projetou o cenário com uma eventual decisão do Supremo Tribunal Federal, impedindo a prisão após julgamento em segunda instância. Para o integrante do STJ, ainda haverá chance de aplicar prisão provisória a réus. “É possível, durante este período, impor uma prisão cautelar em caso de necessidade”, explicou. “A execução da pena dependeria de trânsito em julgado”, completou.

O ministro do STJ ainda afirmou que, nos últimos anos, os casos de violência contra a mulher aumentaram, contrariando a queda geral no número de homicídios e de outros crimes no Brasil.

Cartilha virtual

O evento que recebeu o ministro Schietti Cruz foi promovido pelo Ministério Público. O órgão aproveitou o ato para lançar uma cartilha sobre violência doméstica. O documento será distribuído em plataformas virtuais. A promotora Ivana Machado Battaglin explicou que a medida tem como objetivo viralizar as orientações. “Uma cartilha em papel tem um alcance limitado”, comentou. “Uma cartilha digital pode ser enviada pro WhatsApp e alcançar pessoas que a gente sequer imaginava que chegaria”, sugeriu.

Segundo o Ministério Público, em torno de 500 mulheres fazem parte de uma rede de atendimento a vítimas de violência. A promotoria presta auxílio através de contatos via WhatsApp. Pelo aplicativo, as vítimas podem enviar áudios, vídeos e mensagens que comprovem ameaças sofridas.