Rosa Weber atende Dilma e dá prazo para Bolsonaro esclarecer fala

Presidente sugeriu suposta participação da petista em ações armadas que resultaram na morte do capitão do Exército americano Charles Chandler

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber deu prazo de 15 dias para que o presidente da República, Jair Bolsonaro, se quiser, esclareça fala em que sugeriu que a ex-presidente Dilma Rousseff teve suposta participação em ações armadas durante a ditadura militar que resultaram na morte do capitão do Exército americano Charles Chandler. O presidente não é obrigado a se manifestar ao Supremo sobre o caso. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

É a segunda vez em menos de uma semana que o STF dá prazo para Bolsonaro se manifestar sobre declarações que geraram controvérsia. No último dia 1º, o ministro Luís Roberto Barroso concedeu 15 dias para que Bolsonaro, também se quiser, apresente esclarecimentos sobre a morte do desaparecido político e integrante do grupo Ação Popular (AP) Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira – pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe de Santa Cruz. Bolsonaro apresentou uma versão sobre a morte do militante que não encontra respaldo em informações oficiais das Forças Armadas, compiladas pela Comissão da Verdade, criada no governo de Dilma.

Agora, a decisão de Rosa Weber atende a um pedido da própria ex-presidente, que acionou o Supremo sob a alegação de que o presidente pode ter cometido o crime de calúnia.

“No Brasil, a política até há pouco era de antagonismo a países como Estados Unidos. Os senhores eram tratados como se fossem inimigos nossos. Agora, quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão, como eu sou capitão, naqueles anos tristes que tivemos no passado. Eu até rendo homenagem aqui ao capitão Charles Chandler”, disse Bolsonaro em maio, ao receber o prêmio de “personalidade do ano” oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos em Dallas (EUA).

O capitão americano Charles Chandler morreu em 12 de outubro de 1968, no Sumaré, na zona Oeste de São Paulo, em um atentado atribuído a três militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e da Ação Libertadora Nacional (ALN). Dilma nunca pertenceu a nenhum desses grupos. Da ação, participaram Pedro Lobo de Oliveira, Diógenes José de Carvalho e Marco Antônio Braz de Carvalho, que, segundo Oliveira, atirou contra o militar.

Dilma foi condenada e presa por integrar o grupo guerrilheiro VAR-Palmares durante a ditadura, mas não existem evidências da participação da ex-presidente em ações com o uso da violência.

Na época, a petista divulgou nota afirmando que, ao contrário, foram “heróis e homenageados pelo senhor Bolsonaro que, durante a ditadura e depois dela, tiveram suas mãos manchadas do nosso sangue – militantes brasileiros e brasileiras – pelas torturas e assassinatos cometidos contra nós”.

Ao recorrer ao Supremo, Dilma quer que Bolsonaro esclareça os seguintes pontos: se o presidente se referia à petista quando disse que “quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada”; se ele quis dizer que Dilma tentou matar o capitão Charles Chandler; se Bolsonaro sabe quem são as pessoas responsabilizadas pelas autoridades policiais pela morte de Charles Chandler; se o presidente dispõe de algum documento que indique qualquer acusação formal contra Dilma sobre fatos que envolvem a morte de Charles Chandler.