Meningite: morte de adolescente causada pela doença em Canoas preocupa pais

A possibilidade de surto já foi rechaçada pelas autoridades

Foto: Leandro Osório / Divulgação / CP Memória

A morte de uma adolescente de 14 anos no último final de semana de junho em Canoas, na região Metropolitana, reacendeu o temor de um surto de meningite no Estado. O óbito é o primeiro registrado na cidade em 2019 e o sexto no Rio Grande do Sul no mesmo período. O caso foi confirmado pelo Laboratório Central do Rio Grande do Sul na última sexta-feira, 5, caracterizado como doença meningocócica do sorogrupo C.

A possibilidade de surto já foi rechaçada pelas autoridades, mas o surgimento de novos casos da doença, altamente letal em alguns sorogrupos, trazem temor à população. Em fevereiro, um adulto também foi contaminado na cidade, mas sobreviveu.

Silmara Silva, mãe de dois alunos da escola onde a vítima estudava, relata que o atendimento após a morte da menina não foi o adequado: “não foi distribuída profilaxia para todo mundo. Eles até colocaram um QG para vacinação, mas os professores da menina não tomaram a medicação, e só alguns colegas receberam”.

Ela também criticou a suposta falta de higienização dos espaços do educandário, o que poderia manter a bactéria viva. “Eu tenho dois filhos na escola, nós não vamos mandá-los para a aula nessas circunstâncias”, acrescentou.

Além disso, garantiu que a comunidade solicitou a antecipação do recesso escolar, que começa no dia 22, mas o pedido foi negado pelo colégio. “Disseram que alguns professores já tinham viagens marcadas, mas era uma minoria”, lamentou ela.

O que diz a prefeitura

Ainda na sexta-feira, 5, a prefeitura emitiu nota afirmando que não há risco de surto da doença na cidade e garantindo que todas as medidas previstas pelo Ministério da Saúde para o caso foram tomadas. Até o momento, 37 pessoas receberam a chamada “quimoprofilaxia”, constituída de doses do antibiótico Rifampicina e que é dado de forma preventiva para pessoas que tiveram contato com paciente contaminado pelo vírus.

A prefeitura ainda ressaltou que reuniões com a comunidade escolar, para esclarecimentos sobre o tema, estão sendo realizadas. A respeito da higienização do espaço, a prefeitura afirma que “bactéria que causa a doença não sobrevive no ar ou nos objetos, portanto, não contamina o ambiente” e “não há indicação, em nenhum protocolo do Ministério da Saúde, para a realização de limpeza dos locais frequentados pela vítima.”

Sobre o recesso escolar, garantiu que através de reunião com a comunidade escolar, “como não houve orientação técnica pela Secretaria da Saúde e não foi um consenso entre o corpo docente, optou-se, por tanto, pela manutenção das aulas.”

O que diz o Estado

A Secretaria Estadual da Saúde, através de nota, reforçou que todos os procedimentos recomendados pelo Ministério da Saúde foram seguidos. Sobre a quimoprofilaxia, garantiu que o foco para administração do medicamento são pessoas “com convívio intradomiciliar ou contato contínuo em ambiente fechado por 4 horas ou mais.” Sobre vacinação, ressaltou que ações de imunização não são indicadas para casos isolados, apenas para surtos de doença meningocócica pelo sorogrupo C.

Além disso, o Estado afirma que está acompanhando os contatos íntimos e prolongados e monitorando a circulação da doença no município.

O que é meningite?

Conforme o Ministério da Saúde, meningite é “um processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal.” Entre os agentes infecciosos, as meningites bacterianas e virais são as mais recorrentes, sendo a bacteriana do tipo Meningo-C a mais grave. Ela é considerada uma doença endêmica, ou seja, casos são esperados durante o ano em todo o país, com ocorrência de surtos ocasionais.

A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno, e das virais na primavera-verão. A vacinação está prevista no calendário oficial de imunização. Todas as faixas etárias podem ser acometidas pela doença, porém o maior risco de adoecimento está entre as crianças menores de cinco anos, em especial as menores de um ano. Nos casos de doença causada pela bactéria Neisseria meningitidis (que vitimou a jovem canoense), além das crianças, os adolescentes e adultos jovens têm o risco de adoecimento aumentado.

Casos no Rio Grande do Sul

Em 2019, seis pessoas morreram em decorrência da chamada doença meningocócica. Além da adolescente de 14 anos em Canoas, foram registrados os óbitos de um bebê menor de um mês em Santa Maria, na região Central; de um bebê de dois meses em Alvorada, na região Metropolitana; de um bebê de sete meses em Viamão, também na região Metropolitana, e de uma criança de dois e uma adolescente de 13 anos em São Leopoldo, no Vale do Sinos.

Em 2018 foram 79 casos registrados, com 11 óbitos. Em 2017, 100 casos e 12 óbitos. Nesta década, o ano com maior registro de mortes foi 2015, com 110 casos e 27 óbitos.