O ministro da Justiça, Sérgio Moro, vai ser ouvido na terça-feira pelos deputados de quatro comissões da Câmara sobre vazamento de mensagens interceptadas da Operação Lava Jato. Moro deve falar às comissões de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ); de Trabalho, Administração e Serviço Púbico; de Direitos Humanos e Minorias; e de Fiscalização Financeira e Controle. Os deputados querem esclarecimentos sobre o conteúdo revelado pelo site de notícias The Intercept Brasil, que trouxe mensagens supostamente trocadas entre Moro, então juiz federal, e o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o promotor Deltan Dallagnol.
Na última quarta-feira, o presidente da CCJ, deputado Felipe Francischini (PSL-PR), informou ter recebido correspondência do Ministério da Justiça sobre a disposição de Sérgio Moro em comparecer à Câmara. O ministro previa comparecer à Câmara no último dia 26 para dar esses esclarecimentos, mas cancelou a audiência em função da viagem aos Estados Unidos, o que revoltou o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Helder Salomão (PT-ES). “Alguns deputados e as próprias comissões estão buscando entender por que o ministro não compareceu. Ele deve explicações à sociedade brasileira. Ele precisa se explicar. Ele precisa explicar os bastidores da Lava Jato.”
Recebido ontem pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com tapete vermelho, orquestra de cordas e pompas de chefe de Estado, Moro ganhou a medalha Ordem do Ipiranga, a maior honraria do governo paulista. Ao agradecer, o ministro reconheceu que a homenagem veio em boa hora. “Nas últimas três semanas, apesar desses ataques que entristecem, tenho recebido muitas manifestações de apoio. Hoje é uma delas. Não vamos desistir.”
Revista revela testemunhas indicadas pelo então juiz
A revista Veja revelou nessa sexta-feira o nome de dois personagens supostamente indicados pelo então juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça, ao procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, como testemunhas capazes de contribuir no processo que envolvia o ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá. Os dois personagens ocultos, citados por Moro no Instagram ao procurador, são o técnico em contabilidade Nilton Aparecido Alves, de 57 anos, e o empresário Mário César Neves, dono de um posto de gasolina, de Campo Grande.
Seguindo a orientação do então juiz, Dallagnol procurou as pessoas citadas, mas elas se recusaram a colaborar. Em resposta a Moro, o procurador chegou a sugerir uma denúncia anônima forjada para justificar a expedição de uma intimação obrigando as testemunhas a depor no Ministério Público. O diálogo entre Moro e Dallagnol havia sido publicado pelo site The Intercept Brasil há três semanas, mas sem citar esses nomes.
Nilton Aparecido é conhecido, segundo a revista, por fazer negócios, nem sempre lícitos, relacionados a terras. Abordado pela reportagem da revista na tarde da última quarta-feira, ele se mostrou evasivo. “Não sei por que meu nome está nessa história. Alguém deve ter falado alguma coisa errada”, disse.
Indagado sobre se tinha informações referentes aos filhos de Lula e se havia prestado depoimento aos procuradores da Lava Jato com relação ao tema, ele encerrou a conversa.