Com conta de luz em atraso, Ufrgs não sabe como manter estrutura até setembro

Para o reitor, Ruy Oppermann, responsabilidades do MEC vão além da questão ideológica

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) pode chegar ao mês de setembro sem recursos para custeio, como compra de equipamentos e de livros, por exemplo. A alegação é do reitor, Rui Vicente Oppermann, que participou, nesta terça-feira, do programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba. Ele reiterou preocupação com o bloqueio de parte do orçamento das 63 universidades e dos 38 institutos federais de ensino do País. Segundo o governo Federal, esse corte é sobre gastos não obrigatórios, como despesas com energia elétrica, fornecimento de água, obras e pesquisa.

O reitor da universidade, que atende hoje a 45 mil alunos, informou que a conta de energia elétrica do mês de maio, no valor de R$ 1,8 milhões, está atrasada devido ao contingenciamento. Segundo ele, isso já vem acontecendo. “A cada final de ano a gente leva contas não pagas do ano anterior para o ano seguinte. Isso vai crescendo feito um bolo maléfico. Chega a um momento em que nós não temos sequer o recurso para pagar a conta de energia, se incidir o bloqueio”, lamentou Oppermann.

Preocupação ideológica nas universidades

“Onde está essa questão de gente pelada? De sem-terra? De comunista? Se tiver, não é o essencial da universidade (e sim) o que nós significamos para a sociedade”, disse Oppermann. Para o reitor, antes da discussão ideológica que vem pautando as principais críticas ao sistema educacional, é preciso entender o conceito de universidade.

“É um espaço crítico, de formação de cidadãos, onde precisa existir o contraditório para poder crescer. Não é um espaço de unanimidades. Certamente não é. Achamos importante ter o debate das ideias e ter a posição dos diferentes. Isso pode estar sendo confundido na medida em que se pensa de uma maneira uniforme o comportamento humano”, disse.

Recentemente, o governo anunciou a previsão de descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas) para focar em áreas das exatas, como veterinária, engenharia e medicina. “Nós queremos discutir tudo da melhor forma possível e é assim que se formam, não só os filósofos, mas os médicos, os engenheiros, os dentistas… Não há como imaginar uma universidade formando os profissionais que vão para a sociedade sem que haja esse espaço de discussão, de crítica, de formação da cidadania”, defendeu o reitor.

Oppermann declarou ainda que não há fundamento nas críticas recorrentes à filosofia e à sociologia. “A filosofia não se concentra apenas nos cursos de filosofia. Você faz na medicina e em tantas outras áreas. Não é concebível imaginar não fazer o suporte financeiro para essas áreas no pressuposto que elas não apresentam um produto. Porque o produto maior que elas apresentam é a liberdade de pensamento e a capacidade crítica, sem o que os outros produtos, todos, não têm a maior utilidade”, complementou.

Membros da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior devem se reunir, nesta quinta-feira, com o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Para Oppermann, o ministro assumiu responsabilidades, enquanto gestor público, que vão além de questões ideológicas, como apresentar projetos e desenvolver a educação básica e a educação superior. “Não há como produzir um carro mais eficiente, uma cidade mais competente, um pensar mais producente, sem que as universidades atuem. Estamos aqui discutindo como é que as universidades vão funcionar. Conhecer as universidades é conhecer essa importância”, desabafou o reitor.

Bloqueio de bolsas também atinge universidades particulares

As universidade privadas e comunitárias também dependem de recursos públicos, principalmente nas disciplinas de pós-graduação. Conforme o diretor de Pós-Graduação da PUCRS, Christian Haag Kristensen, cerca de 75% dos dois mil estudantes da modalidade são bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A fundação é do Ministério da Educação (MEC), que é responsável pela expansão e consolidação de pós-graduação, mestrado e doutorado.

“Sem esse financiamento é inviável, mesmo nas privadas e comunitárias”, disse Kristensen em entrevista ao Esfera Pública. Segundo o diretor, foram bloqueadas três bolsas de doutorado e outras três de pós-doutorado financiadas pela Capes na instituição.