Novos mercados se abrem para a exportação de gado em pé. A modalidade já é consolidada no Rio Grande do Sul, que exporta para a Turquia e países árabes cerca de 120 mil animais por ano – média histórica de 1% do rebanho gaúcho de 12,7 milhões de cabeças, conforme dados da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), responsável pela fiscalização sanitária e bem-estar dos animais desde a propriedade, período de quarentena e embarque no Porto do Rio Grande.
“Mantemos diálogo permanente com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e apoiamos as tratativas já em andamento com Tailândia e Indonésia, ao mesmo tempo em que sabemos do interesse de países como Malásia e Irã”, diz o secretário Covatti Filho.
“No que depender de mim como ministra e do setor produtivo, vamos continuar fazendo com que cresça essa cooperação comercial entre os países do mundo árabe e o Brasil”, afirma a ministra Tereza Cristina.
Operação complexa
A exportação de gado vivo é uma operação logística de processos complexos. Em um dos mais recentes embarques, 9.359 animais dos municípios de Capão do Leão e Rio Grande foram embarcados no navio Kenoz, com destino ao Egito. A operação envolveu 190 cargas de caminhão fazendo o translado dos animais desde dois EPEs (estabelecimentos pré-embarque) até o porto.
A viagem marítima tem duração de 21 dias, de Rio Grande até o porto egípcio de Damietta, às margens do Mediterrâneo. Dias antes da viagem do Kenoz, outros 9.876 animais embarcaram no navio Polaris para a Turquia, principal comprador do gado vivo gaúcho, com 95,5% das exportações de boi em pé no ano passado.
Só em 2018, 168.833 mil cabeças saíram do Rio Grande do Sul para o Exterior. No ano anterior, foram 85.678. Além da Turquia, Jordânia e Egito compraram gado vivo, mas num percentual bem menor, que não chega a 5%. Os dados são da Seapdr.
“A procura dos países árabes pelo gado gaúcho é alta, porque temos a genética do gado europeu como diferencial”, afirma o diretor do Departamento de Defesa Agropecuária (DDA) da Seapdr, Antonio Carlos de Quadros Ferreira Neto.
Em receita, o comércio do boi vivo no Rio Grande do Sul em 2018 movimentou US$ 101,2 milhões, segundo o Ministério da Agricultura. No ano anterior, foram US$ 35,5 milhões, crescimento de 184% em um ano. O Rio Grande do Sul está em terceiro lugar na exportação de boi vivo, logo atrás de São Paulo, que vendeu US$ 103,5 milhões, e Pará, com US$ 281,5 milhões.
Etapas do processo
Para que o gado chegue ao seu destino, um longo caminho deve ser percorrido. Primeiro, entre países, com a assinatura de acordos comerciais e sanitários regidos por regras internacionais. Depois dos contratos fechados, o importador deve ter Certificado Zoossanitário Internacional (CZI) e preencher formulários e guias no ministério.
O próximo passo é encontrar um vendedor, fazer a vistoria do EPE e comprar insumos. Depois disso, já na propriedade, ocorre a seleção do gado e a definição de quantidade. Os animais devem seguir as exigências sanitárias do importador quanto à erradicação de doenças, vacinação, peso e aspecto do animal, entre outros.
Com o rebanho selecionado, ocorre o período de quarentena nos EPEs, que não significa necessariamente 40 dias, mas sim um período de resguardo que varia de país para país.
O carregamento nos caminhões deve ser ininterrupto para preservar os animais. E existe todo um cuidado para redução do estresse no transporte, não podendo faltar água potável e alimentação, e os instrumentos utilizados não podem provocar dor, entre outras recomendações, para garantir o bem-estar animal. A instrução normativa 46 do ministério regulamenta todo o processo.
Após o embarque dos animais no navio, o trabalho da Seapdr se encerra. Pelo Porto do Rio Grande, foi embarcado 21% do gado vivo exportado pelo Brasil. O país é o quarto exportador mundial de boi vivo por qualquer transporte e o segundo via marítima, atrás apenas da Austrália.
Economia dinamizada
“O animal sai da propriedade com a chancela da secretaria, passa para o EPE e entrega com a guia no porto, livre de qualquer problema sanitário contido no protocolo exigido por aquele país”, afirma Valmor Lansini, supervisor regional da Seapdr em Pelotas.
Cada país tem uma exigência diferente. No caso da Turquia, a preferência é por machos inteiros, de até 24 meses, em média com até 180 quilos, e a quarentena é de 21 dias. Os exames sanitários básicos são de febre aftosa (o Rio Grande do Sul tem certificado de livre com vacinação), brucelose e tuberculose e vaca louca.
Os técnicos da Seapdr fazem a vistoria primeiramente na propriedade e depois nos EPEs, onde os animais ficam confinados em quarentena de 21 dias no caso da Turquia. Ali são examinados e passam por diversos exames sanitários, além de controle de peso e situação geral de bem-estar.