Protesto em favor da comunidade indígena Mbya-Guarani que vive em uma área da Fazenda do Arado Velho, na zona Sul de Porto Alegre, ocorreu na tarde deste domingo, na Praça Antônio Inácio da Silva, no bairro Belém Novo. Mais de 100 pessoas participaram da manifestação.
O deputado estadual Pedro Ruas, que esteve presente, denunciou que a comunidade indígena está em uma situação de violência e de humilhação. “Eles estão em uma espécie de cárcere privado ao ar livre. Eles não podem sair e não conseguem acesso à cidade por terra e nem por água. E ainda houve episódio de tiros”, destacou.
Em razão dessa situação, a vereadora e deputada federal eleita Fernanda Melchionna solicitou uma audiência na próxima sexta-feira com a chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor, para tratar do caso. “Existe um interesse imobiliário gravíssimo que está pressionando brutalmente os indígenas a deixarem o local”, ressaltou Ruas.
João Farias, do Observatório Indigenista, informou que 30 famílias entre crianças, adultos e idosos vivem no local. “Pesquisadores de universidades comprovaram que a área possui ligação com a ancestralidade Guarani”, explicou. Segundo ele, a empresa Arado Empreendimentos Imobiliários Ltda., que sustenta ser a proprietária legal do terreno, colocou uma cerca com sensor elétrico confinando os índios e impedindo acesso a água potável.
De acordo com Farias, na madrugada de sexta-feira, pessoas deram diversos tiros na volta do acampamento e ameaçaram os índios dizendo que eles tinham até este domingo para deixar a área. “Até a Justiça se pronunciar se a área é Guarani ou não, a empresa deve retirar a cerca. É preciso respeitar o direito de ir e vir e de acessar a área pelos índios”, ressaltou. A Justiça ainda analisa se o processo deve permanecer em âmbito estadual ou ser encaminhado à esfera federal.
Timóteo Karai-Mirim, liderança da comunidade Mbya Guarani, que participou do ato disse que todos estão assustados com os acontecimentos dos últimos dias. Durante a manifestação, foram recolhidos produtos não perecíveis para ajudar os indígenas. A Polícia Civil abriu um inquérito, na sexta-feira, para apurar a ameaça de morte com ataques a tiros contra a comunidade.
O grupo passou a viver no local em junho do ano passado, depois de ter sido retirado de outra área, reivindicada como terra indígena.