Entre inovação e tradicional, a diversidade na Feira da Agricultura Familiar

De Santa Clara do Sul, a Franz Alimentos apresenta a farinha de batata doce - Foto: Karine Viana/Palácio Piratini

Todo o ano, o público busca avidamente as novidades no pavilhão da Agricultura Familiar na Expointer, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo. E não sai decepcionado. O crescimento do espaço e o aumento no número de agroindústrias – mais de 7 mil metros quadrados de área construída e 285 expositores – é acompanhado pelo lançamento de produtos. Dentre centenas de alternativas oferecidas, na praça de alimentação e nos estandes, selecionamos cinco: cuca de vinho, farinha de batata doce, chopp orgânico, sementes agroecológicas e sementes crioulas.

O produtor rural Anderson Ávila Horning, 29 anos, veio de Paverama, da região do Vale do Taquari. A novidade da banca 208, da Agroindústria Horning, onde trabalham seis pessoas, é a cuca de vinho. “Depois que lançamos, no ano passado, a cuca de chocolate ao rum, o pessoal vinha pedindo algo diferente com a uva”, explica Anderson. “Criamos a cuca de vinho e a cuca de churros, receitas nossas. Fizemos um creme de vinho tinto e colocamos nas cucas”, contou.

A receita agradou. E também com o aumento de fluxo de público no pavilhão, as vendas aumentaram. Mais de 2,8 mil cucas foram comercializadas entre sábado e a última quinta-feira, com valores entre R$ 8 e R$ 10. Por vários dias, os produtos já tinham acabado no meio da tarde, e pessoal da Horning teve de correr para buscar estoque.

De Santa Clara do Sul, a Franz Alimentos apresenta a farinha de batata doce. “Fizemos pesquisas para produzir um alimento mais saudável e constatamos que a batata doce é boa para saúde, para diabetes e gastrite”, esclarece Daniel Franz, 33, sócio e filho do proprietário da Franz Alimentos. “Então criamos a farinha de batata doce, que é utilizada para fazer bolos, pães, massa de panqueca, colocar em batidas, misturar com frutas”, esclarece Daniel Franz, 33 anos, sócio e filho do proprietário da Franz Alimentos. A farinha é vendida em envelopes de alumínio – que garante maior conservação ao alimento – com 120 e 500 gramas. Envelope de 120 gramas custa R$ 7. A banca 170 também vende salgadinhos de batata doce e aipim a R$ 5. Durante a feira, Daniel afirma que comercializam, na média, 10 caixas de salgadinhos por dia.

Já a Cervejaria SteinHaus aposta no slogan “A primeira cervejaria do Brasil 100% orgânica e sustentável”. Os empreendedores são de Picada Café, município de 4,5 mil habitantes a 80 quilômetros de Porto Alegre. “Estruturamos a cooperativa e, em novembro de 2015, lançamos a primeira cerveja orgânica. Neste projeto, produzimos os grãos, a cevada, o trigo, a aveia, o centeio. Com isto, temos um projeto local e sustentável”, afirma o agricultor Ricardo Fritsch, 45 anos, criador da fórmula da bebida.

A cooperativa ligada à cervejaria envolve quatro famílias, gerando emprego e renda diretamente para 15 pessoas na região. O principal mercado da SteinHaus é a região sudeste do Brasil, principalmente, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A cervejaria artesanal participa do Pavilhão da Agricultura Familiar desde 2012, vendendo cerveja e chope orgânico, com valores entre R$ 10 e R$ 15. Localizada na praça de alimentação, a banca comercializa uma média de 300 litros de chope por dia.

Sementes crioulas
Outra novidade que tem atraído crescente atenção do público são as sementes agroecológicas e as sementes crioulas. “A produção de semente agroecológicas foi uma iniciativa de pequenos agricultores nos municípios de Candiota e Hulha Negra. No projeto, o agricultor produz as sementes em um sistema agroecológico, diferente do modelo de produção baseados nos químicos e sintéticos”, conta Elias Santos da Silva, 26 anos, formando em Agronomia, na banca 263, da cooperativa Bionatur.

Completando 20 anos de atividade, a Bionatur, de Candiota, tem mais de 200 sócios, com a produção baseada nos assentamentos da reforma agrária nas regiões sul, campanha gaúcha e Missões. Atualmente, também está ampliando a produção para Minas Gerais, Distrito Federal, São Paulo e Paraná, em um trabalho em rede que envolve agricultores familiares, pesquisadores, agrônomos, técnicos rurais e instituições. A experiência da Bionatur conta com apoio da Conab, Emater, Embrapa, UFPel e outras estaduais.

“Quando o agricultor familiar e o próprio viveirista querem garantir que toda a cadeia de produção seja orgânica, ele necessita destas sementes. A proposta visa garantir que as famílias permaneçam no campo, produzindo alimento saudável”, complementa Elias.

No estande, as sementes agroecológicas são vendidas em sachês a R$ 2, onde também é possível adquirir camisetas e bonés da cooperativa. Durante a feira, são comercializados cerca de 400 sachês por dia.

Culturas antigas

Se a cooperativa Bionatur trata de dezenas de espécies – hortaliças, grãos e forrageiras mais conhecidas como abobrinha, tomate, cebola, repolho e milho – a Associação Içara, na banca 54, se preocupa e trabalha com centenas de espécies de sementes crioulas. Cúrcuma, pitaia, girassol, gengibre, araruta, cará-da-terra, fáfia, amendoim, tremoço, fava, aipim, feijões variados… Um amplo espectro da biodiversidade.

“A semente crioula é a semente antiga – milenares dos indígenas e centenárias que vieram com os negros e os imigrantes – que a gente guarda e planta novamente, destinada a nossa alimentação, que levou centenas de anos para chegar a este estágio palatável. Nosso trabalho principal é o resgate daquelas que pode estar sumindo”, explica o agricultor Amilton Fernando Munari, 50 anos, que participa da Expointer há 21 anos, antes mesmo da criação da Feira da Agricultura Familiar.

A Associação Içara, de Maquiné, no Litoral Norte, reúne 10 famílias – entre agricultores, panificadores, coletores, artesãos e pequenos empreendedores do turismo rural –, gerando sustento para mais de 30 pessoas e desenvolvendo ações educativas e ambientais nas propriedades e nas escolas da região.

“A gente ensina a tecnologia das sementes e a maneira de plantar em um sistema agroflorestal, onde tem plantas companheiras, como as frutas nativas. Tudo isso a Associação Içara faz. Planta para vender, planta para comer e planta para trocar”, esclarece o agricultor.

A venda na banca aumentou 30% em relação ao último ano, comercializando meia tonelada de mudas e sementes, sendo 150 quilos somente de milho crioulo. “Pelo interesse das pessoas, a gente calcula que a venda deve crescer 100% nos próximos 3 a 4 anos”, prevê.