
Com o nível do Guaíba estabilizado em 2,65 metros no Cais Mauá, em Porto Alegre, e a redução da pressão das águas vindas do Jacuí, a situação em Eldorado do Sul e no bairro Arquipélago não se agravou nas últimas horas. Mesmo assim, o cenário nas duas regiões continua de apreensão, reforçado pela lembrança das enchentes de 2023 e 2024.
Em Eldorado do Sul, várias ruas do bairro Cidade Verde seguem alagadas. A Defesa Civil informou que o nível do rio apresentou pequena elevação durante a madrugada, mas já dá sinais de estabilidade, com expectativa de recuo nas próximas horas. O coordenador da Defesa Civil, Mário Rocha, diz que ocorre monitoramento constante e foram reforçadas as equipes nas zonas de risco. “A tendência é de estabilidade e declínio nas próximas horas”, disse.
Apesar do alívio momentâneo, a maioria das famílias já havia deixado as casas ou retirado os pertences de forma preventiva.
“Acordamos com a água subindo na cama box. Não achávamos que subiria de novo”, conta Jonas Marques, de 62 anos, morador da Rua Napoleão Tavares de Jesus.
Ele lembra que no primeiro dia houve correria com a presença dos bombeiros e caminhões de frete, mas agora o bairro está mais calmo, já que grande parte dos moradores evacuou.
Na mesma região, Geovani de Quadros Laronde, analista de sistemas de 27 anos, diz ter conseguido proteger os móveis por morar em uma casa de dois pisos. Mas nem todos tiveram a mesma sorte. “Tem gente que não consegue. Isso que é brabo”, lamenta.
Ele conta ter comprado um apartamento para deixar a área, mas os pais, já idosos, não têm condições de mudar. “Viver sofrendo todos os anos com as enchentes, isso não é vida”, afirmou.
Nas Ilhas de Porto Alegre, o cenário também é de vigilância. Na Ilha da Pintada, a água já se aproxima da Colônia de Pescadores Z5, enquanto na Ilha das Flores o acesso terrestre está bloqueado, só é possível circular de barco. À beira da BR-290, moradores deixaram veículos estacionados por segurança, temendo a subida das águas.
O pescador Felipe Maciel Visintaimer, de 40 anos, que vive em uma parte um pouco mais alta da Ilha da Pintada, se preparou para evitar prejuízos.
“Fiz todos os móveis de tijolo à vista. Só os roupeiros precisam ser elevados, se for o caso. Não dá mais pra estar comprando tudo de novo”, afirma.
Ele lembra que, no ano passado, ajudou nos resgates de vizinhos, mas espera que desta vez isso não seja necessário.
Do bairro Arquipélago é possível ver que a correnteza do Jacuí segue forte, levando troncos e detritos em direção ao Guaíba. A expectativa, agora, é de que o nível da água comece a baixar nas próximas horas.
Fonte: Guilherme Sperafico/Correio do Povo