
Após dias de trauma e apreensão, a terça-feira marcou o início da retomada para as famílias de São Sebastião do Caí, atingidas por mais uma enchente do Rio Caí na semana passada. Durante a madrugada, o nível do rio voltou a subir, chegando a 9,80 metros, mas não ultrapassou a cota de inundação, o que trouxe alívio para os moradores.
Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, Germano Bacedoni, cerca de 94 famílias foram retiradas preventivamente no primeiro evento da cheia, afetando aproximadamente 274 pessoas. “A maioria já tinha retornado, restavam apenas 13 famílias nas áreas mais ribeirinhas, que aguardavam segurança para voltar. Hoje todos estão autorizados a retornar”, informou.
Ainda de acordo com Bacedoni, mais de 300 residências ficaram cercadas pela água, mas somente 94 foram efetivamente atingidas. As equipes iniciaram durante a manhã a entrega de kits de limpeza, higiene e alimentação diretamente nas casas dos atingidos.
Terceira enchente
A volta para casa, no entanto, ainda é marcada por dificuldades. Liliane Soares, 46 anos, perdeu tudo no ano passado e agora vive de aluguel em uma moradia que, novamente, foi afetada. “Está difícil conseguir o aluguel social. Já é a terceira enchente que passo. Desta vez, tive que ir para o abrigo porque meu marido não queria sair”, contou. Liliane mora na última casa da rua Coronel Paulino Teixeira, no bairro Navegantes.
Na parte inferior do mesmo imóvel, Michele Ferreira, de 23 anos, passou a última cheia tentando salvar os pertences. “Ficamos das 8h às 21h30min esperando para retirar tudo. Em novembro do ano passado, meu marido não quis sair e quase morreu afogado com meu pai. Agora levamos tudo para o abrigo, mas é difícil pensar em sair daqui sem ter para onde ir”, relatou.
Cheia histórica
Em outra parte do bairro Navegantes, Adriana Rodrigues Machado, 38 anos, ainda sente os reflexos da enchente de 2024. Morando de aluguel social há um ano, após perder a casa na cheia histórica, desta vez também foi atingida. “Entrou 1,5 metro de água, mesmo minha casa sendo alta. Meu filho perdeu roupas, móveis estragaram de novo. Já é a quarta vez que desmontamos tudo para fugir da água”, lamenta.
Ela conta que pretende se mudar para Novo Hamburgo, onde busca uma nova moradia. Apesar da estabilidade do nível do rio na manhã, a Defesa Civil seguirá monitorando o cenário para garantir segurança às famílias nos próximos dias. A Prefeitura também segue com o suporte e a entrega de materiais de limpeza às residências afetadas.
Fonte: Guilherme Sperafico / Correio do Povo