
No ano de 2021 havia 770 mil pessoas em situação de pobreza na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPOA), o que representava 17,8% da população. Três anos depois, em 2024, o número de moradores da RMPOA abaixo da linha de pobreza caiu para 504 mil, fazendo a taxa chegar ao menor nível da série histórica – iniciada em 2012 -, declinando para 11,5%. Ou seja, mais de 265 mil pessoas deixaram a situação de pobreza monetária em somente três anos na RMPOA. Segundo o prof. Andre Salata, coordenador do PUCRS Data Social, “o movimento observado na RMPOA acompanha a tendência encontrada em todas as regiões metropolitanas do país no mesmo período, ainda que em níveis distintos”.
As informações estão na décima sexta edição do “Boletim – Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo PUCRS Data Social, Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Os dados são provenientes da PNAD Contínua anual, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita total. O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o ano de 2024, de acordo com o IPCA. O estudo trabalha com as linhas de US$6,85/dia PPC para pobreza e US$2,15/dia PPC para a extrema pobreza, assim como definidas pelo Banco Mundial. Em valores mensais de 2024, a linha de pobreza é de aproximadamente R$695 per capita e a linha de extrema pobreza é de aproximadamente R$218 per capita.
O estudo mostra que a redução da pobreza na RMPOA se deve, sobretudo, ao aumento da renda. Em 2024 a média de renda bateu o recorde de alta na série histórica, alcançando o valor de R$2.887. Apenas três anos antes, em 2021, a média era de R$2.286. Ou seja, houve um crescimento de 26% no período. É importante destacar, ainda, que a tendência de crescimento da renda se deu em todos os estratos, inclusive entre os estratos inferiores. Entre os 40% mais pobres da população da RMPOA a média de renda bateu o segundo recorde consecutivo da série histórica, chegando a R$908 em 2024. Em 2021 a renda dos mais pobres era de R$ 625. Com efeito, em somente três anos houve aumento de 25%.
AUMENTO DA RENDA
Segundo o prof. Andre Salata, “a taxa de pobreza pode cair em função do aumento da média de renda e/ou da redução das desigualdades. No caso da RMPOA, a redução recente da pobreza se deve, sobretudo, ao aumento da renda, em especial dos rendimentos provenientes do mercado de trabalho. Assim, sem dúvida um mercado de trabalho mais aquecido, aliado à retomada da política de valorização do salário-mínimo, ajudam muito a entender o contexto de queda da pobreza.”
Em consonância com a afirmação acima, o boletim mostra que a desigualdade de renda, na RMPOA, apresentou pouca variação no período recente. O coeficiente de Gini – quanto mais próximo de 1 (um), maior a desigualdade – variou de 0,491 para 0,489 entre 2021 e 2024, e a razão da renda dos mais ricos em relação aos mais pobres foi de 12,1 para 12,0. Ou seja, a tendência tem sido de manutenção do nível de desigualdades. Nesse sentido, a RMPOA se distancia da situação das regiões metropolitanas brasileiras em geral – entre as quais a tendência tem sido de queda das desigualdades -, mas se aproxima das demais metrópoles do Sul, como Florianópolis e Curitiba, para as quais houve, inclusive, aumento do Gini entre 2021 e 2024.
De acordo com o prof. Andre Salata, diversos fatores contribuem para este cenário nas metrópoles do Sul do país: “primeiro, são regiões com níveis de desigualdade e desocupação historicamente mais baixos, o que deixa menor margem para reduções. Segundo, é uma região com renda média mais alta, e, portanto, menos sensível ao aumento que tivemos nas políticas de transferência de renda e, também, de elevação do salário-mínimo. Terceiro, há um forte peso do agronegócio na estrutura produtiva desta região, e a estiagem de 2022 teve impacto grande sobre agricultores familiares e trabalhadores rurais menos qualificados.”
Mesmo assim, o boletim destaca que não apenas a taxa de pobreza apresentou queda, mas também a taxa de extrema pobreza. Se, em 2021, 3,5% da população da RMPOA poderia ser considerada extremamente pobre, em 2024 esse índice cai para 1,4%. Portanto, também houve ganhos importantes entre as famílias mais vulneráveis da região. Nesse sentido, o prof. Andre Salata destaca que, a despeito das graves enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul em 2024, não houve retrocesso nos indicadores apresentados. O que significa que a economia da RMPOA, aliada às ações governamentais, conseguiu se recuperar relativamente bem após o ocorrido no segundo trimestre de 2024”.