
O sequestro de Gilson Trennepohl, de 65 anos, dono da Stara e vice-prefeito de Não-Me-Toque, foi precedido por estudo de sua rotina, aluguel de veículos e reserva de sítio em Marau, onde o empresário permaneceu por quase dois dias. Três suspeitos foram presos.
De acordo com o delegado e diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), João Paulo de Abreu, a motivação do sequestro foi financeira. Não é descartado envolvimento de mais suspeitos.
“Tudo indica que os criminosos agiram com motivação pecuniária e monitoraram a rotina da vítima. Sabiam, por exemplo, que não haveria outra pessoa no momento do sequestro. Também conheciam brechas de sua segurança. Estamos avaliando se eles contataram outras pessoas para eventual tentativa de fuga, que não ocorreu”, disse João Paulo de Abreu.
O delegado adiciona que uma chácara foi reservada na plataforma online Airbnb, servindo de cativeiro em Marau. Dois automóveis também foram alugados.
Ainda segundo o diretor do Deic, os presos vão responder por extorsão mediante sequestro. Eles não tinham antecedentes de crimes do tipo, mas somavam passagens em outros delitos. Nenhum deles ocupa hierarquia em facções.
“Eles não tinham experiência de sequestro nem destaque no crime organizado. Por isso, não foi possível identificar uma quadrilha maior. Apesar disso, é inegável que fizeram bastante planejamento”, avaliou João Paulo de Abreu.
Um homem de 33 anos foi detido em Marau, na noite dessa segunda-feira, a aproximadamente 90 quilômetros do lugar do sequestro. Na tarde anterior, ele havia entrado com o refém em um milharal, utilizando o celular da vítima em negociações. Pelas 1h30min, teria se assustado com uma viatura da Brigada Militar, momento em que o empresário se desvencilhou em busca de socorro. Foi preso por volta das 19h30min, durante incursão do 3º Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque) no matagal, sem resistência. Sua arma não foi encontrada. Seria o cabeça do esquema.
Antes dele, no início da tarde, outro homem, de 25 anos, foi capturado em ação do 38º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e da Agência de Inteligência da corporação. Estava na obra onde prestava serviços, em Não-Me-Toque. Ele teria atuado como motorista no sequestro.
Os dois, conforme o Ministério Público, teriam participado de um homicídio, no dia 11 de março de 2016, em Não-Me-Toque. Na data, Júlio César Fagundes, de 32 anos, foi baleado e morreu após uma discussão.
Além da dupla, um terceiro homem, de 20 anos, foi preso no domingo, em um Chevrolet Ônix, na RS 324, em Marau. A ação ocorreu após moradores da região desconfiarem do sujeito, acionando a BM enquanto ele estava em um posto de gasolina. Seria um dos mentores do crime.
Foram mais de 40 horas de operação conjunta entre Comando de Polícia de Choque (CPChq), Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), Batalhão de Aviação da BM (BavBM), Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO) do Planalto, Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), 3º Regimento de Polícia Montada (3º RPMon) e Polícia Civil. Não houve pagamento de resgate.
Relembre o sequestro
O caso teve início pelas 2h30min de sábado, quando Trennepohl chegava em casa após participar da festa de final de ano da empresa. Ali, foi rendido por dois homens, que já o aguardavam dentro da propriedade. Segundo a investigação, eles invadiram o local pouco após a meia-noite, ultrapassando um alambrado.
Às 10h, embarcaram na Toyota Hilux do empresário. Depois, abandonaram a caminhonete em Passo Fundo, seguindo em um Renault Duster SUV, guiados por um terceiro comparsa, rumo a uma propriedade rural. No cativeiro, ligaram para o filho da vítima.
No final da manhã de domingo, forças policiais tentaram resgate, mas os sequestradores escaparam para uma estrada de terra. Ali, atearam fogo no SUV, entrando com Trennepohl em um matagal, com o resgate da vítima no início da madrugada. O empresário recebeu atendimento no Hospital Cristo Redentor de Marau, sendo liberado sem ferimentos. Ele passa bem.
“Estabelecemos um gabinete de crise. Isso porque a compartimentação de informações é determinante em casos assim, tendo em vista a preservação da vítima. PC e BM atuaram de forma ininterrupta”, afirmou o delegado João Paulo de Abreu.
Fonte: Marcel Horowitz / Correio do Povo