A proximidade do início da aplicação, pelos Estados Unidos, da tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil foi o principal tema discutido na reunião de diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta terça-feira, 29, em Brasília. Os dirigentes de federações manifestaram grande preocupação com os impactos da medida para as cadeias produtivas locais, incluindo perda de mercado, de competitividade e de empregos. A CNI estima que, caso entre em vigor, a medida pode ocasionar a perda de pelo menos 110 mil postos de trabalho, além de reduzir em 0,16% o PIB do Brasil e de provocar uma queda de 0,12% na economia global, com retração de 2,1% no comércio mundial (US$ 483 bilhões). A instituição segue reafirmando a importância da negociação e da ampliação do diálogo com autoridades e empresários norte-americanos.
“Temos um tempo muito curto que nos separa da data limite de aplicação da tarifa, mas identificamos canais e ações que podem ser muito úteis para promover uma ação construtiva, que, a meu vere, só pode ser alcançada a partir de um diálogo intenso e de todos os canais disponíveis”, destacou o conselheiro emérito da CNI, Armando Monteiro Neto.
O Ceará é um dos estados que será mais afetado pelo tarifaço, já que lidera a lista das unidades federativas que mais dependem do mercado norte-americano. O presidente da Federação das Indústrias do Estado (FIEC), Ricardo Cavalcante, estima que 8 mil empregos estão em risco na indústria local. Os setores mais impactados são aço, pescado, cera de carnaúba, castanha de caju e calçados.
RISCO BILATERAL
O cientista político Christopher Garman, da consultoria Eurasia, avalia que o risco de uma escalada de conflitos na relação bilateral é significativo, e que o tema deve se estender para além do curto prazo. Segundo Garman, há 40% de probabilidade de o conflito levar a uma retaliação de ambos os lados. Por outro lado, há menos de 10% de possibilidade de haver um acordo comercial amplo. Ele acredita que o governo norte-americano não adiará nem suspenderá a aplicação do tarifaço e a taxação começará no prazo anunciado (sexta-feira, 1º), mas vê possibilidade de negociação para que, aos poucos, alguns itens que são importantes para os EUA, como suco de laranja, café, celulose e madeira, sejam excluídos paulatinamente do tarifaço.
“Estamos num cenário bem desafiador no curto prazo e num ciclo escalatório, e, nesse contexto, o papel do setor privado é bastante importante, principalmente para ajudar no alinhamento entre as empresas do Brasil e dos EUA, pois ambas têm interesse e serão afetadas. Existe espaço para negociar ao longo do tempo”, resumiu.
Garman listou alguns pontos de atenção para o Brasil: minerais críticos – o Brasil deve explorar maneiras de buscar acordos envolvendo o setor; autopeças – os EUA devem buscar outros fornecedores, considerando problemas com o Méxido e o Canadá; e o etanol, produto em que há demanda antiga por mais acesso ao mercado brasileiro.