
O aparecimento de pinguins e lobos marinhos mortos na beira da praia no litoral brasileiro desperta atenção nas últimas semanas. Centenas de carcaças chegaram à costa, com muitos registros nos estados de Santa Catarina e São Paulo.
Pelo menos 3.342 pinguins foram registrados este ano entre Santa Catarina e o Rio de Janeiro, de acordo com dados Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos, instituição ligada à Petrobras. No Rio Grande do Sul, também têm sido comuns registros desse tipo. No último fim de semana, foram avistados seis pinguins-de-magalhães e um lobo-marinho mortos na praia de Costa do Sol, em Cidreira.
O biólogo Maurício Tavares, pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), da Ufrgs, explica que o fenômeno não é atípico, tem causas naturais e está relacionado com os movimentos migratórios dessas espécies.
O pesquisador evita comentar os dados de outros estados, mas destaca que é comum o aparecimento de pinguins-de-magalhães e lobos marinhos nesta época do ano. “Começa no fim do outono e tem um pico, que pode ser no meio do inverno ou então no fim do inverno, como este ano”, afirma.
Tavares trabalha com monitoramento do litoral gaúcho desde 1999. Desde 2012, o trabalho passou a ser semanal e inclui outros pesquisadores. A área monitorada tem cerca de 130 km, entre Itapeva, em Torres, até Dunas Altas, em Palmares do Sul, e é dividida em dois trechos.
“Todos os anos morrem milhares de pinguins e perto de uma centena de lobos marinhos, que são os animais típicos desta estação. Este ano, os registros estão um pouco abaixo de outros anos”, afirma. No último levantamento, foram localizados 14 lobos marinhos mortos e cinco vivos, em um trecho de cerca de 70 km.
Seleção natural
Ao longo dos anos, Tavares observou um padrão entre os animais mortos. Geralmente são animais jovens, no primeiro ano de vida, que morrem de causas naturais, como viroses.
“Muitos deles não conseguem vencer os obstáculos naturais, o que a gente chama de seleção natural. Então quase a totalidade dos que a gente encontra são animais que morreram no mar ou que saem muito debilitados. E a maioria por viroses. Uma ínfima parte pode ter relação com interação com o ser humano”.
“Eles não se perdem”
Um equívoco comum, segundo Tavares, é de acharmos que os animais morrem pois se perderam de seu grupo. “Não, eles não se perdem. Esse é um comportamento da espécie, que acontece há centenas de anos. Isso é uma coisa do ser humano, de humanização, de achar que o bicho está perdido, machucado”.
A migração dos pinguins
Os pinguins-de-magalhães são aves marinhas migratórias e as colônias reprodutivas no sul da América do Sul, Argentina e Chile. Nesta época do ano, os animais estão migrando para o norte.
Na primavera, os animais adultos retornam às colônias reprodutivas. O período de postura de ovos ocorre em meados de outubro e novembro. Os animais nascem no verão, entre os meses de dezembro e fevereiro. Em meados de março e abril, os indivíduos jovens trocam de plumagem, ganham independência e se dispersam das colônias. A partir daí, inicia o período de migração, que vai de maio a agosto, e que é quando os animais passam pelo nosso litoral.
Os registros de animais mortos são mais comuns entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, mas há anos em que animais aparecem em estados mais ao norte, como Ceará e Bahia. Alguns fenômenos podem interferir no número de mortes registradas. Em ano com ocorrência de La Niña, por exemplo, os registros costumam crescer.
Fonte: Matheus Chaparini / Correio do Povo