
A Polícia Federal identificou movimentações financeiras de pouco mais de R$ 44,2 milhões realizadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro entre março de 2023 e junho de 2025 que levantam suspeitas de lavagem de dinheiro.
As informações fazem parte do inquérito da PF no qual o ex-presidente foi indiciado por tentar atrapalhar a ação penal do golpe, da qual ele é réu. A Polícia Federal viu indícios de que Bolsonaro e o filho Eduardo Bolsonaro cometeram os crimes de coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal) e abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L).
A defesa de Bolsonaro afirmou ter recebido com “surpresa” o indiciamento realizado pela Polícia Federal. Os representantes de Bolsonaro negam descumprimento de medidas cautelares impostas pelo STF. Segundo a defesa, ele sempre respeitou as determinações judiciais.
O documento da PF foi feito com base em dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Segundo a Polícia Federal, nem todas as movimentações realizadas na conta do ex-presidente foram analisadas, apenas as que aparentam indicar algum crime.
O Coaf disponibilizou um RIF (Relatório de Inteligência Financeira) que, segundo a PF, “apresenta informações e comunicações relativas a operações financeiras suspeitas de configurarem indícios de lavagem de dinheiro e outros ilícitos penais, tendo como principais envolvidos Jair Messias Bolsonaro e Eduardo Nantes Bolsonaro”.
“Naturalmente, tais comunicações também revelam a participação de terceiros que mantiveram relações financeiras com os principais investigados nas operações identificadas como suspeitas”, detalhou a PF.
Segundo o documento, entre março de 2023 e junho de 2025, Bolsonaro realizou operações financeiras que incluem créditos e débitos em contas próprias, transferências a terceiros e aplicações em produtos bancários. Veja o detalhamento:
De 1/3/2023 a 7/2/2024
- Créditos: R$ 30.576.801,36
- Débitos: R$ 30.595.430,71
De 8/2/2024 a 26/8/2024
- Créditos: R$ 1.733.079,19
- Débitos: R$ 1.345.311,79
De 27/8/2024 a 19/12/2024
- Créditos: R$ 872.013,80
- Débitos: R$ 1.260.985,76
De 20/12/2024 a 5/6/2025
- Créditos: R$ 11.105.788,18
- Débitos: R$ 11.105.788,18
Somando os quatro períodos, Bolsonaro recebeu R$ 44.307.516,44 e transferiu R$ 44.287.682,53.
Principais destinatários
Segundo a análise da Polícia Federal, considerando o período total das movimentações financeiras analisadas, o principal remetente de recursos para Bolsonaro foi o PL (Partido Liberal), com R$ 1.111.651,38.
Os principais destinatários do ex-presidente foram:
- 4 escritórios de advocacia, que receberam, em conjunto, R$ 8.954.571,09;
- Eduardo Bolsonaro, que recebeu R$ 2.139.000,00; e
- a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que recebeu R$ 2.070.100,00.
Do valor enviado a Eduardo, R$ 2 milhões foram transferidos em 13 de maio, quando o deputado já estava nos Estados Unidos. Bolsonaro justificou que o repasse era para o filho não passar dificuldades no exterior.
Segundo a PF, em 29 de maio Eduardo realizou uma operação de câmbio no valor de R$ 1.661.835,76. O banco que movimentou os recursos informou que esse valor teria como origem uma doação realizada por Bolsonaro.
Também receberam recursos do ex-presidente no intervalo analisado pela PF outros dois filhos dele: o vereador do Rio de Janeiro (RJ) Carlos Bolsonaro (PL) — R$ 116,5 mil — e o vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan (PL) — R$ 121 mil.
Portal R7