
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, entregou pouco antes do fim do
prazo, que se encerrou às 23h59, desta segunda-feira, as alegações finais do processo de tentativa de golpe. Gonet pediu, como esperado, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus que integram o chamado núcleo central da trama.
O pedido de condenação ser esperado, e agora confirmado, não se deu em função de uma perseguição política como na narrativa sustentada por lideranças próximas ao ex-presidente e por militantes que se alimentam de construções fictícias disparadas em grupos de WhatsApp. O pedido ocorreu porque, majoritariamente, os envolvidos nos diferentes núcleos que integraram o esquema, muitos com os processos ainda em andamento, que visava um golpe para garantir a permanência de Jair Bolsonaro no poder, deixaram uma sucessão de evidências de seus atos e passos. Talvez pela crença na impunidade. Talvez por falta de habilidade.
A proximidade com o fim do prazo para as alegações finais foi marcada pela divulgação da carta de Donald Trump, anunciando o tarifaço para o Brasil caso a perseguição a Jair Bolsonaro não fosse encerrada imediatamente. O documento trazia ainda outros motivos igualmente distorcidos, como o ataque à livre expressão dos americanos, e mentirosos, como o do déficit americano na relação comercial entre Brasil e EUA.
A carta levou o presidente do Supremo, Luiz Roberto Barroso, a escrever uma resposta. Sem citar Trump e em um tom institucional, o ministro praticamente desenhou a série de episódios que ocorreram de 2019 para cá. Relembrando casos que passam longe do discurso de que nenhuma ação golpista foi colocada efetivamente em prática no Brasil.
Com o pedido de condenação, o clã Bolsonaro deve dar ainda mais sinais sobre do que é capaz, e fazer ainda mais movimentos, na tentativa de salvar a própria pele. Nunca foi pelo Brasil.
Em tempo: as inconsistências e mudanças de versões de Mauro Cid, cuja delação foi uma das principais bases do processo, não passaram batidas e levaram Gonet a defender a redução de apenas um terço da pena do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Fato que será explorado à exaustão pelas defesas e lideranças bolsonaristas.
Fonte: Taline Oppitz/Correio do Povo