
Se um roteirista fosse sintetizar em um filme os eventos da semana econômica, o título poderia ser “O show de Trump: o show da negociação”. Com poucos dados econômicos a serem divulgados no período, mas de grande relevância, o presidente dos EUA estará no centro das atenções, assim como o começo das negociações entre as equipes governamentais norte-americanas e brasileiras.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fez um resumo da reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Donald Trump, dos Estados Unidos, e disse que Lula pediu que as tarifas impostas à exportação de produtos brasileiros sejam suspensas durante o período de negociações. O presidente brasileiro ainda solicitou que as tratativas entre os dois países começassem de forma imediata. Os dois presidentes trataram da relação comercial entre os países, incluindo a demanda brasileira pela retirada das tarifas de 50% sobre as exportações aos EUA, além do fim das sanções impostas a autoridades brasileiras.
Entretanto, no cenário mundial, a reunião mais aguardada deve ocorrer na quinta-feira, 30, na Coreia do Sul, durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec). Depois de meses de adoção de tarifas, troca de acusações e recuos, Trump vai se reunir com Xi Jinping, presidente da China. Em pauta, as tarifas recíprocas implementadas entre os dois países e uma nova agenda comercial, tendo como pano de fundo um reequilíbrio macroeconômico global — com a China buscando elevar o consumo e os EUA, os investimentos.
“Se vai dar casamento” entre Trump e Xi, é outra história. A torcida dos investidores é para que, ao menos, uma trégua seja alcançada, cessando as trocas de acusações que alimentam a volatilidade nos mercados. Caso, após a reunião, as tensões entre os dois países se intensifiquem, é provável que ocorra uma correção nos mercados, que recentemente atingiram máximas históricas nos EUA.
Se um acordo for fechado — algo que quase ninguém espera —, o sentimento de apetite ao risco deve se sobressair, estabelecendo as bases para o rali de fim de ano. Caso esse cenário se concretize, ele se somaria à flexibilização monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), que recebeu sinal verde para cortar a taxa de juros em 25 pontos-base na reunião de quarta-feira, 29.
Os investidores já se anteciparam, apostando que cortes adicionais de 0,25 ponto percentual também serão realizados nas reuniões de dezembro e janeiro. “A grande dúvida é se o Fed encerrará o quantitative tightening (QT), programa de redução do balanço do banco central que, em última instância, retira liquidez do mercado e exerce efeito semelhante ao de juros elevados. Com as reservas bancárias abaixo de US$ 3 trilhões e alguns bancos regionais sob desconfiança de risco de crédito, é provável que, ao menos, o Fed apresente um cronograma para encerrar o QT”, comenta Leandro Manzoni, economista da plataforma Investing.com.
A semana teria uma extensa bateria de dados nos EUA se não fosse a paralisação do governo. A primeira prévia do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre seria divulgada na quinta-feira, 30, e o índice de inflação preferido do Fed (PCE), na sexta, 31.
Em outras regiões, as atenções dos investidores se voltam para a Zona do Euro, o Japão e a Argentina. Os dois primeiros têm decisão sobre a taxa de juros marcada para quinta-feira (30), com expectativa de manutenção e dúvidas em relação aos próximos passos. O Banco Central Europeu (BCE) pode sinalizar a continuidade da taxa atual na reunião de dezembro, enquanto o Banco do Japão (BoJ) pode indicar uma alta nas taxas em sua última reunião do ano, também em dezembro.
MERCADO LATINO
Já a Argentina realiza eleições legislativas de meio de mandato no próximo domingo, quando dois terços das vagas na Câmara dos Deputados e um terço do Senado serão renovados. O cenário-base é que o partido do presidente Javier Milei obtenha cerca de 35% das cadeiras no Congresso, segundo o BTG Pactual. Um número inferior a esse pode pressionar os ativos argentinos na segunda-feira, enquanto um percentual maior de cadeiras governistas pode impulsionar um rali.
No Brasil, a atenção dos investidores se voltará aos dados do mercado de trabalho de setembro. A semana começa com ao divulgação do Relatório Focus, do Banco Central, enquanto o mercado avaliará se a taxa de desemprego permanece na mínima histórica e a massa salarial em níveis recordes — ou se começa a surgir um distensionamento. A semana começa também com a divulgação do IPC da FIPE e da sondagem do consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), também na segunda-feira, 27. Na terça-feira, 28, tem a divulgação da sondagem da construção e do INCC-M de outubro, ambos da FGV/Ibre.
A quarta-feira, 29, é a vez da divulgação de dados do Banco Central, incluindo a nota de política monetária e operações de crédito de setembro e o Fluxo Cambial semanal, além do Relatório mensal da dívida pública federal. Já na quinta-feira, 30, será a vez do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de setembro, com expectativa de criação de 170 mil vagas formais, e o resultado primário do Governo Central, projetado em superávit de R$ 15,5 bilhões. O dia também traz o IGP-M de outubro, estimado em alta de 0,27%, e as sondagens do comércio e de serviços da FGV/Ibre.
Encerrando a semana, na sexta-feira, 31, o IBGE divulga a taxa de desemprego da PNAD Contínua, com projeção de 5,6%. Já a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) define a bandeira tarifária de energia elétrica para novembro. Também será conhecido o indicador de incerteza da economia da FGV/Ibre.