
O pior cenário para o Brasil em relação aos acordos de reciprocidade propostos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seria o uso das tarifas para obter vantagens em outras áreas, como exploração de minerais estratégicos e terras raras ou pressionar o governo brasileiro em relação a investimentos e/ou importações chinesas. A avaliação é do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado nesta segunda-feira, 14, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), aumentando as incertezas para os resultados da balança comercial brasileira este ano.
A justificativa desde o início do governo e mais uma vez enfatizada no dia 2 de abril, “Liberation Day”, era o tratamento desleal dos parceiros, o que levava ao déficit da balança comercial dos Estados Unidos. Foram anunciadas tarifas de importações que variaram de 49% para o Camboja até 10% para países que os Estados Unidos registravam déficits comerciais pequenos ou superávits, como o Brasil. Em seguida no dia 9 de abril, o Trump anuncia que iria suspender as tarifas maiores do que 10% até o dia 9 de julho e abriria negociações.
Um acordo com a China foi anunciado no início de junho, após o aumento de tensão entre as duas maiores economias do mundo, com tarifas de importações praticadas pelos Estados Unidos em relação à China chegando a 145%. O governo Trump reduziu essa tarifa para 30% e a China comprometeu a facilitar a compra pelos Estados Unidos de minerais críticos e terras raras. O prazo de 9 de julho foi adiado para 1º de agosto e acordos começaram a ser anunciados. Neste mesmo interim, para surpresa do governo brasileiro, foi anunciada por meio de uma carta uma tarifa de 50% para os produtos brasileiros.
RESULTADO
A balança comercial do Brasil é sistematicamente deficitária com os Estados Unidos, desde 2009. O Brasil não registra superávit com os Estados Unidos desde esta data, sendo que no primeiro semestre de 2025, a balança bilateral Brasil-Estados Unidos foi de US$ -1,7 bilhões. O desempenho dos fluxos de comércio mostra que em termos de volume, as exportações para os Estados Unidos superaram o crescimento total das exportações brasileiras nos períodos de 2012/2016; 2020/2024 e na comparação entre os dois primeiros semestres de 2024 e 2025. No caso das importações, apenas na comparação dos primeiros bimestres de 2024 e 2025 e no período de 2016/2020, as compras externas oriundas dos Estados Unidos superaram as importações totais do Brasil.
Apesar de um relativo bom desempenho das exportações, é fato a perda de importância dos Estados Unidos na pauta de comércio do Brasil. Entre 2001 e 2024 a participação das exportações dos Estados Unidos caiu de 24,4% para 12,0% e as importações de 22,7% para 15,5%. Essas perdas estão relacionadas com o avanço da China. A pauta de exportações para os Estados Unidos é bastante diversificada. Enquanto 10 produtos explicaram 57% das exportações brasileiras para esse mercado, no caso da China 3 produtos (petróleo, soja e minério de ferro) explicaram 96% das exportações brasileira para esse mercado em 2024.
JUNHO
A balança comercial de junho registrou um superávit de US$ 5,9 bilhões, inferior ao de igual período de 2024, US$ 6,3 bilhões. No acumulado do ano até junho, o superávit foi de US$ 30,1 bilhões e no mesmo período de 2024, o saldo foi de US$ 41,6 bilhões. A corrente de comércio aumentou seja na comparação mensal, mais US$ 1,3 bilhões, ou no acumulado até junho, mais US$ 9,2 bilhões.
A piora no saldo acumulado e a melhora na corrente de comércio são explicadas pelo maior crescimento das importações do que das exportações. Na comparação dos resultados do primeiro semestre de 2024 com os de 2025, o recuo no valor exportado foi de US$ 1,1 bilhões, uma queda de 0,7%. As importações aumentaram em US$ 10,4 bilhões, um crescimento de 8,3%.
Na comparação entre os dois primeiros semestres de 2024 e 2025, chama atenção a variação de +28% das importações de bens de capital da indústria de transformação em comparação com o recuo de 0,9% na agropecuária. Nas compras de bens intermediários, a diferença é menor, aumentos de 8,6% para a transformação e 8,0% para a agropecuária. Esses resultados mostram que o aumento das exportações da indústria de transformação está relacionado ao crescimento das importações do setor.
A queda no superávit nos 6 primeiros meses do ano foi liderada pela redução no saldo comercial com a China, que passou de US$ 22,4 bilhões para US$ 12,0 bilhões entre 2024 e 2025 e o aumento do déficit com os Estados Unidos de US$ 300 milhões para US$ 1,7 bilhões. A Argentina contribui de forma positiva, passando de um déficit para um superávit de US$ 3,0 bilhões e com a União Europeia o déficit aumentou da ordem de cem milhões para seiscentos milhões de dólares.