
O que era para ser um passeio escolar, por pouco não terminou em uma tragédia no Centro Histórico de Porto Alegre na tarde desta sexta-feira (3). Um ônibus de excursão que transportava 57 estudantes de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, para uma visita ao Palácio Piratini, causou um acidente que envolveu ao menos 10 veículos, antes de pegar fogo e danificar um prédio.
Conforme relatos, o veículo ficou preso em cabos de telefonia e, no momento em que o motorista desceu para tentar retirar os fios, o ônibus começou a descer pela rua Espírito Santo; Pelo caminho, atingiu oito carros, uma van e uma motocicleta, depois acabou incendiando. O fogo se espalhou, atingindo a fachada e apartamentos de um prédio residencial.
Um dos primeiros carros a ser atingido era o do instrutor de CFC, Leonardo Joner, de 37 anos, que havia acabado de estacionar na via. “Eu vi o ônibus descendo desgovernado e pulei pela janela do carro. Foi questão de segundos, parecia filme de terror”, contou.
Ele relatou que, ao perceber a aproximação do veículo, não teve outra alternativa senão se jogar pela janela do carona em direção à calçada. “Eu fiquei esperando a pancada. Ele veio lavrando lá de cima. A primeira batida foi atrás do meu carro. Pulei para o lado da calçada, porque se eu ficasse ali ia morrer”, disse.
Segundo o comandante do 9º BPM, tenente-coronel Hermes Völker, o ônibus levava adolescentes de 15 a 17 anos e dois professores. Após a visita ao Palácio Piratini, o grupo seguiria para outro ponto do passeio, no BarraShoppingSul. O motorista relatou que o coletivo colidiu com fios de energia no primeiro terço da rua Espírito Santo, acionou o freio de mão e desceu para verificar o problema. Nesse momento, o ônibus começou a descer sozinho, com os passageiros a bordo, até colidir com os veículos estacionados e parar em frente a um prédio residencial, onde as chamas ganharam força.
A Brigada Militar e o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) foram acionados imediatamente. Em cerca de 30 a 40 minutos, as equipes conseguiram controlar o incêndio, que atingiu três apartamentos do primeiro andar do edifício — um deles teve danos significativos nos quartos da frente. “Toda a nossa preocupação foi evacuar as pessoas do ônibus e também os moradores do prédio. Felizmente não havia ninguém dentro dos carros atingidos”, informou o comandante Völker.
Todos os estudantes foram retirados do ônibus a tempo, com ajuda de populares que quebraram os vidros. Ao menos 10 pessoas precisaram de atendimento médico por inalação de fumaça, entre passageiros e moradores do prédio. Nenhuma vítima sofreu ferimentos graves e os casos mais preocupantes foram encaminhados para atendimento. As crianças foram levadas para um espaço na na rua Washington Luiz, enquanto os responsáveis eram comunicados.
Testemunhas relataram momentos de pânico. Joner contou que, após escapar, viu pessoas quebrando os vidros do ônibus para retirar os passageiros. “Começou a pegar fogo e dar barulhos de explosão. Mas conseguiram tirar todo mundo. Foi mais dano material. Graças a Deus, estou vivo”, disse.
O comandante do 9º BPM explicou que ainda estão sendo apuradas as causas do acidente. O ônibus pertence a uma empresa de turismo, e as crianças são de uma escola de Vacaria. A colisão com os fios ocorreu no trecho de declive, entre as ruas Duque de Caxias e Cel. Fernando Machado. “A preocupação inicial foi garantir a evacuação e atendimento imediato das pessoas. Agora os peritos vão apurar a dinâmica do acidente e se houve falha mecânica”, afirmou.
Até o início da noite, o trânsito na região seguia parcialmente bloqueado para o trabalho das equipes de segurança e remoção dos veículos. Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), há bloqueios na rua Demétrio Ribeiro, na altura da rua General Auto, e na rua Espírito Santo, na altura da rua Cel. Fernando Machado.
Para Joner, que há duas semanas já havia sobrevivido a outro acidente de trânsito, a sensação ainda é de incredulidade. “Eu só pensava que estava vivo. Não sabia se lá de baixo tinha gente viva pegando fogo. Foi um filme de terror”, resumiu.
Fonte: Guilherme Sperafico / Correio do Povo