
A Polícia Civil estimou que aproximadamente 240 bichos foram mortos por determinação da ex-titular da Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas, Paula Lopes. Ela é suspeita de autorizar supostas práticas de eutanásia ilegal. Nesta quinta-feira, a mulher foi alvo da Operação Carrasco.
“Estimamos em cerca de 240 o número de animais, entre cães e gatos, que foram mortos durante a gestão. Muitos destes foram recolhidos das ruas ou doados por famílias para adoção. Esse cálculo equivale a oito meses de investigações”, afirmou o delegado regional Cristiano Reschke.
A ex-secretária também lidera uma ONG de acolhimento de animais. De acordo com Cristiano Reschke, por meio da instituição, ela pedia valores e dizia que o montante seria investido em ações de resgate e no cuidado dos bichos. A suspeita é que os recursos tenham sido desviados.
“Ela é uma pessoa bastante ativa nas redes sociais e ostenta uma imagem de protetora de cães e gatos. Por meio dessa ONG, pedia doações via Pix, supostamente para cuidar dos bichos. Acreditamos que, ao invés disso, desviava os valores, ao mesmo tempo em que determinava a eutanásia de animais”, pontuou o delegado regional.
Nesta manhã, os policiais efetuaram seis mandados de busca e apreensão em propriedades da ex-secretária e na sede do órgão. Foram encontrados R$ 100 mil em um imóvel ligado à investigada.
O que diz a investigada
A reportagem tenta contato com a ex-secretária e com a defesa dela. O espaço permanece aberto. Nas redes sociais, ela publicou um vídeo em que diz estar “tranquila”.
“Está tudo bem, não se preocupem. Isso é só mais um reflexo do que a política faz. Desde as minhas primeiras semanas em Canoas, já precisei ir ao Ministério Público por causa de denúncias. As pessoas que perdem algo começam a fazer denúncias infundadas. Estão tentando achar cabelo em ovo. Da minha parte, estou tranquila”, afirmou a ex-secretária, que foi exonerada do cargo em 18 de agosto.
Operação Carrasco
Os agentes da 3ª Delegacia de Canoas cumpriram seis mandados de busca durante as diligências. As apreensões somaram documentos, computadores e registros de entrada e saída de animais, além de informações sobre microchips implantados nos pets. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) apoiou as diligências.
As equipes ainda localizaram cerca de 15 animais mortos, com carcaças envoltas em sacos plásticos, dentro de um freezer. Também foram resgatados, com vida, gatos que estavam em condições de maus-tratos e que eram mantidos em gaiolas.
De acordo com a delegada titular da 3ª DP de Canoas, Luciane Bertolletti, a ofensiva foi consequência de denúncias feitas por ativistas da causa animal. Eles relataram que mais de 20 bichos eram mortos semanalmente.
“Segundo os denunciantes, ocorria uma matança desmedida de animais, com anuência da então secretária. Essas suspeitas ganharam força com a entrega de um dossiê feito eles. O documento tinha fotos e descrições de pets que tinham sumido sem explicação, muitos dos quais tinham sido recolhidos de ruas ou entregues ao órgão por famílias em situação de vulnerabilidade, com expectativa de adoção”, afirmou a delegada.
Ainda conforme Luciane Bertolletti, periodicamente uma caminhonete fazia o transporte dos cães e gatos mortos, que eram descartados sem registro ou documentação oficial. Também não havia notificação desse procedimento em sistemas de controle.
“Vamos cruzar os documentos apreendidos com os relatos de servidores e os registros de chips, buscando comprovar o número real de eutanásias realizadas. Também não descartamos fraude em laudos veterinários”, disse a titular da 3ª DP de Canoas.
Leia a nota da Prefeitura de Canoas
A Prefeitura de Canoas recebe com indignação as denúncias relacionadas à operação realizada na manhã desta quinta-feira (4). A administração municipal sempre se comprometeu a tratar o cuidado com os animais como prioridade. A Prefeitura reitera que colabora com as investigações e abriu um expediente interno para apurar os fatos com todo o rigor.
Fonte: Marcel Horowitz/Correio do Povo