
Na semana em que o tarifaço entra em vigor, o dólar fechou a R$ 5,50 nesta segunda-feira, 4, em baixa mais uma vez, puxada pelo movimento de recuperação do Brasil após astarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos. Esse é o menor nível desde o dia 9 de julho, quando foi anunciada a taxação. Às 17h18, o contrato de dólar futuro caía 0,61%, chegando a R$ 5,54 na venda. A moeda americana vem perdendo força em meio ao cenário com reavaliação do ritmo e previsão de cortes de juros pelo FED (Federal Reserve).
Outro sinal positivo foi a divulgação do novo Caged (Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados), que apontou que o Brasil criou 1.222.591 empregos com carteira assinada de janeiro a junho de 2025, uma queda de 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado. E o movimento de queda do dólar frente ao real tem chamado atenção de analistas e investidores. O economista chefe da G11 Finance, Hugo Garbe, avaliou que a redução é, sobretudo, ancorada por fatores externos.
“O real é uma moeda sensível ao diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. A percepção de que o ciclo de aperto monetário norte-americano está próximo do fim, ou ao menos em pausa, revalorizou moedas de economias emergentes com juros elevados, como o Brasil”, explica.
Internamente, Garbe destaca o impacto da atuação do Banco Central, que vem mantendo uma política monetária cautelosa. “Por meio de intervenções no mercado de câmbio — como leilões de swap cambial ou venda de reservas —, o BCB pode suavizar movimentos abruptos e prover liquidez”, analisa. Segundo ele, os sinais de moderação na pressão fiscal e a manutenção da taxa Selic em patamar elevado contribuíram, mas o fator principal continua sendo a dinâmica global de dólar e juros.
O economista Felipe Salto concorda: “É muito mais um movimento do dólar, que está perdendo força globalmente, do que do real. Por outro lado, chamo a atenção para a proposta de tarifa adicional sobre o Brasil, que acabou nascendo já com número relevante de exceções”. No campo político, Garbe reconhece que, apesar das tensões entre o Executivo e o Congresso, o Brasil atravessa um momento de maior previsibilidade institucional. “A relativa redução do ruído institucional, mesmo que temporária, contribuiu para uma percepção de menor risco-país no curto prazo”, comenta.
IMPACTOS
Na prática, a queda do dólar tende a beneficiar setores que dependem da importação de insumos ou produtos acabados, como o varejo e a indústria. “A valorização do real reduz o custo de importações (combustíveis, alimentos, bens de capital), aliviando pressões sobre o IPCA”, explica Garbe. No entanto, setores exportadores e o turismo podem sentir o impacto negativo. “A apreciação do real pode reduzir a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, especialmente no setor agrícola e industrial, além do desestímulo ao turismo receptivo“, diz.
Hugo Garbe também aponta que a queda do dólar ajuda no controle da inflação, ao baratear produtos importados e combustíveis: “Um câmbio mais valorizado pode acelerar o início de um ciclo de afrouxamento monetário, estimulando o consumo e o investimento”. Apesar do cenário positivo no curto prazo, o economista alerta para a possibilidade de reversão e que a tendência de queda do dólar não deve ser encarada como definitiva.
“A continuidade da queda do dólar frente ao real dependerá da manutenção do apetite global por risco, da condução do cenário fiscal doméstico e da comunicação do Banco Central americano nas próximas reuniões do FOMC [Federal Open Market Committee]”, analisa o especialista.
(*) com R7