
Com ao menos cinco incêndios de grande porte registrados na área urbana e centenas de ocorrências menores registradas pelo Corpo de Bombeiros, Porto Alegre vive um novembro atípico em 2025. De impactos variados, estas ocorrências causam preocupação em uma época de aproximação do calor, o que pode aumentar o risco de chamas, em grande parte devido à sobrecarga elétrica.
Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Engenheiro do RS (Senge-RS), João Leal Vivian, estatísticas demonstram que 90% dos incêndios em imóveis no país têm origem em equipamentos elétricos em mau estado, ocasionando curtos-circuitos, sobrecarga energética ou falhas de equipamento. Em 2024, o Rio Grande do Sul foi a quarta unidade da federação com maior número de incêndios de origem elétrica, com 96, atrás somente de São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
Os dados são do Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2025, da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). No documento, o presidente da entidade, Danilo Ferreira de Souza, citou inclusive a relação entre as enchentes do ano passado no RS e incêndios elétricos. “Elas trouxeram à tona a necessidade de maior atenção à reenergização de instalações elétricas após inundações. Instalações comprometidas pela água e pela lama podem se tornar verdadeiras armadilhas, com riscos elevados de curtos-circuitos, incêndios e choques elétricos”, disse Souza.
“Todos estes incêndios têm similaridades, sendo multifatoriais. Normalmente, a regra é que o fogo comece a partir de uma fonte de ignição”, comentou Vivian. O primeiro incêndio com maiores consequências na Capital foi no dia 5, na rua Marechal Floriano Peixoto, junto à Praça XV, no Centro Histórico, destruindo dois casarões históricos e danificando prédios próximos. No dia 14, uma casa pegou fogo no bairro Rubem Berta, na zona Norte.
Cinco dias depois, foi a vez de um edifício de três andares no Petrópolis. Em 24 de novembro, um prédio residencial incendiou no Jardim Itu; enquanto na última quarta-feira, um prédio na avenida Mauá, também na área central. E para além dos feridos e dos transtornos, a situação levanta o debate sobre segurança destas instalações.
“Um incêndio com material combustível não tem uma dificuldade de propagação, e, da mesma forma, seu combate é mais complicado”, acrescentou Vivian, também engenheiro civil pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e doutorando em Engenharia de Segurança aos Incêndios na Universidade de Coimbra, em Portugal. Em regiões históricas, como o Centro e o 4º Distrito, a hipótese é a de que instalações elétricas mais antigas podem não ter sido substituídas ou terem sido reaproveitadas.
Há, também, um excesso de edificações abandonadas com alta carga combustível interna, a exemplo de depósitos de materiais, cujas condições de infraestrutura são desconhecidas. “Temos enraizada no Brasil a cultura da busca pelo alvará, de ter um projeto aprovado junto ao Corpo de Bombeiros. É preciso ter uma virada cultural quanto à segurança. É preciso envolver o projeto técnico, a execução das instalações, treinamento de equipes e garantir o pleno funcionamento dos sistemas”, salientou Vivian.
Confira algumas dicas para evitar incêndios
- Revisar instalações elétricas, especialmente ventiladores e ar condicionados, além de tomadas em geral
- Revisar itens de segurança e combate a incêndios, a exemplo de extintores e sprinklers
- Revisar treinamentos de equipes e saídas de emergência
- Cuidar com a manipulação e uso de velas e lareiras, assim como depósitos de materiais potencialmente inflamáveis
- Contratar profissionais habilitados para realizar projetos e manutenções em casas e estabelecimentos
Fonte: Felipe Faleiro/Correio do Povo