
A guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, continuará a guiar a precificação dos ativos financeiros nos mercados globais, ainda mais em uma semana fraca de indicadores econômicos. No Brasil, não será diferente, com o país sob a ameaça de uma tarifa de 50% sobre suas exportações à maior economia do mundo e sem sinais de negociação ou denominadores comuns para que um acordo seja alcançado. O país é um dos poucos sob ameaça tarifária e exigências que vão além do comércio e da economia, até porque o país possui déficit na balança comercial com os norte-americanos.
Um novo processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi alvo de medida cautelar na última sexta-feira, 18, bate de frente com o ultimato dado por Trump na véspera: de que o Judiciário encerre os processos contra o ex-presidente brasileiro. Se esse for realmente o objetivo com as ameaças tarifárias ao Brasil, dificilmente um acordo será obtido, nas palavras de Roberto Giannetti da Fonseca, head de Comércio Exterior do Lide.
“Por outro lado, se a irritação com o Brasil estiver relacionada à proposta de um novo arranjo comercial com intermediação por moedas locais pelos países-membros dos Brics, à eventual taxação brasileira das Big Techs e à dificuldade competitiva das empresas financeiras americanas no sistema de pagamentos do Pix, talvez haja espaço para negociação — além da abertura do mercado brasileiro de etanol, uma reivindicação antiga dos EUA”, diz Leandro Manzoni, analista da plataforma Investing.com.
De toda forma, não é apenas o Brasil que está nessa encruzilhada com os EUA. Embora Trump e sua equipe econômica prometam, semanalmente, uma “enxurrada” de acordos comerciais, o tempo passa e, até agora, houve apenas anúncios de novos entendimentos com Reino Unido e Vietnã. Na última semana, Trump já modulou o discurso, afirmando que as tarifas anunciadas seriam, na prática, um acordo — e que os países afetados deveriam abrir novas negociações para reduzi-las.
“É um recado claro para União Europeia, Japão e Coreia do Sul. Em relação aos chineses, o prazo para a revisão das tarifas acordadas em maio está se aproximando — 12 de agosto —, apesar de avanços na relação entre os dois países no que diz respeito a setores tecnológicos sensíveis”, diz Manzoni.
A China retomou a liberação de exportações de ímãs de terras raras, enquanto os americanos autorizaram novamente a exportação do chip H20 da Nvidia para o mercado chinês. Entretanto, a semana reserva novidades em outra frente de tensão estimulada por Trump.
O presidente americano persiste na pressão sobre o chair do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell, para que reduza a taxa de juros imediatamente e de forma significativa, com o objetivo de levá-la rapidamente ao patamar de 1% — sem mencionar a possibilidade, inconstitucional, de demissão de Powell antes do fim de seu mandato, em maio de 2026. Mesmo com diretores acenando para a pressão de Trump — como Christopher Waller, que indicou a possibilidade de corte já na reunião de 30 de julho —, a expectativa é de manutenção, com a maioria dos diretores, inclusive Powell, defendendo a postura de “esperar para ver” os impactos das tarifas sobre o nível de preços.
INFLAÇÃO AO CONSUMIDOR
A inflação ao consumidor de junho, divulgada na última semana, acelerou, ainda que com incipiente efeito das tarifas recíprocas de importação de 10%, aplicadas em abril. O Fed espera que os principais efeitos dessas tarifas sejam sentidos entre julho e setembro, o que impediria a retomada dos cortes até, pelo menos, a reunião de setembro — quando o mercado precifica o início da flexibilização monetária.
No Brasil, além das tarifas de Trump, o tema fiscal permanece no radar, com a divulgação do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas Primárias, na terça-feira. A manutenção parcial da alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo STF deu certo alívio ao governo, mas não elimina a pressão por novos bloqueios e cortes no Orçamento.
Na sexta-feira, 25, será divulgada a prévia da inflação de julho, o IPCA-15, pelo IBGE. As decisões de taxa de juros da Zona do Euro, na quinta-feira, 24, ficou em segundo plano, sobretudo diante da expectativa de manutenção das taxas pelas duas autoridades monetárias. A temporada de balanços prossegue nos EUA, com destaque para Tesla e Alphabet (dona do Google). Neoenergia, Weg, Multiplan e Usiminas dão o pontapé inicial na apresentação dos resultados financeiros do segundo trimestre.