
O mercado financeiro voltou ao período em que os indicadores da agenda econômica ficam em segundo plano, cedendo espaço ao discurso político e às decisões governamentais como principal fator de precificação dos ativos. A expectativa já era de que julho seria volátil nos mercados, com o fim do prazo concedido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para que as negociações com os parceiros comerciais da maior economia do mundo levassem a um acordo — caso contrário, as tarifas anunciadas em abril começariam a ser aplicadas.
Com apenas dois acordos anunciados (Reino Unido e Vietnã) e uma trégua com a China estabelecida, a extensão do prazo para 1º de agosto poderia ser bem recebida. No entanto, o estabelecimento de taxas a vigorar a partir do mês que vem – caso os acordos não sejam selados – para os países que receberam uma carta de Trump não foi bem acolhido pelo mercado.
“Houve surpresa, inclusive, com a ameaça de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras aos EUA, sob o argumento, além do suposto “déficit comercial dos EUA com o Brasil” — de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e de grandes empresas de tecnologia. Vale lembrar que o Brasil havia sido poupado das taxações divulgadas em abril, recebendo apenas a taxa recíproca de 10% sobre suas exportações para os EUA, principalmente pela balança comercial bilateral ser favorável aos americanos”, comenta Leandro Manzoni, economista da plataforma Investing.com.
A semana será dominada pelo que for dito na Casa Branca e/ou postado nas redes sociais na hora da tomada de decisão dos investidores. Novas cartas podem ser divulgadas, além de possíveis avanços ou retrocessos nas negociações com diferentes países. Para complicar a situação, como a administração Trump não pode demitir o chair do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) por ser inconstitucional — conforme decisão da Suprema Corte neste ano —, busca outras formas de forçar a saída de Jerome Powell antes do fim de seu mandato, em maio de 2026.
“Uma eventual saída de Powell, caso seja percebida como forçada ou como um abalo à independência do Fed, pode ter efeito oposto ao desejado pela Casa Branca: em vez de queda nos juros, o mercado poderia precificar elevações, o que dificultaria uma flexibilização monetária “à canetada”, comenta Manzoni.
Em meio a essas incertezas, começa a temporada de balanços com os resultados financeiros do segundo trimestre de 2025 das empresas com ações negociadas em Wall Street — tema que, não fosse a turbulência político-econômica, deveria ser o principal foco deste boletim. Outros dados importantes da semana, nos EUA, incluem: a inflação ao consumidor, na terça-feira, 15, e ao produtor na quarta-feira, 16, além da produção industrial e as vendas no varejo, e dos preços de exportação e importação na quinta-feira, 17.
Os investidores também ficarão atentos, na quarta-feira, 16, ao Livro Bege — compilado das condições atuais de atividade econômica, preços e mercado de trabalho nas 12 regiões cobertas pelos Feds regionais — e à prévia da Confiança do Consumidor de julho, divulgada pela Universidade de Michigan na sexta-feira, 18.
A agenda econômica é esvaziada no Brasil, já tomado pela incerteza relacionada à tarifa comercial imposta pelos EUA. O grande destaque é o IBC-Br de maio nesta segunda-feira, 14 — prévia do PIB divulgada pelo Banco Central —, que encerra a divulgação dos indicadores de atividade econômica brasileira relativos ao quinto mês do ano.