No cenário local, o IPCA de junho, a ser divulgado na quarta-feira, 10, deve mostrar uma alta ligeiramente acima de zero. Trata-se de um sinal de desaceleração na margem, mas ainda distante do centro da meta de 3% ao ano e do teto de tolerância de 4,5%. Os economistas devem avaliar como se comporta a inflação de serviços, considerada o calcanhar de Aquiles do Banco Central e um dos principais fatores de contaminação das expectativas para os próximos anos.
A semana também reserva a divulgação das vendas no varejo, na terça-feira, 8, e do volume de serviços, na sexta-feira, 11. As atenções estarão voltadas para detectar sinais de desaceleração, o que pode reforçar a leitura de que o choque de juros promovido pelo Copom começa a surtir efeito. “Se os dados vierem aquém do esperado, o mercado poderá testar o argumento do Copom de juros elevados por um período bastante longo”, comenta Manzoni, sobretudo se os próximos dados de atividade e inflação continuarem abaixo do previsto.
Também será importante monitorar os dados da inflação ao produtor — tanto os do IBGE quanto os da FGV —, que vêm registrando deflação. Especialistas e agentes do mercado financeiro preveem que a inflação acumulada em 12 meses vai furar o limite da meta pela nona vez seguida em junho. A projeção média de analistas é de que o IPCA registrará uma variação de preços de 0,25% em junho.
Caso esse número seja confirmado na divulgação do próximo dia 10, a inflação acumulada em 12 meses será de 5,36%. A meta para o IPCA definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3% para 12 meses. Existe uma tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O IGP-DI, próximo indicador de inflação do lado da oferta, será divulgado na segunda-feira, 7.
ACORDOS AMERICANOS
Os indicadores econômicos brasileiros não são os únicos destaques na semana de agenda esvaziada no exterior. Uma das poucas previsibilidades do presidente dos EUA, Donald Trump, no entanto, deve se concretizar: o fim do prazo para as negociações comerciais e o possível retorno das tarifas anunciadas em 2 de abril, previsto para o dia 9 de julho — caso ele não mude de ideia.
Até o momento, o governo americano anunciou dois acordos comerciais: com o Reino Unido e com o Vietnã. O acordo com os britânicos ainda apresenta pendências a serem resolvidas. Especulações apontam que a Índia seja o próximo país a anunciar um acerto. O secretário do Tesouro, Scott Besset, afirmou nesta semana que começaria a “chover” anúncios de novos acordos.
“Com os países e regiões mais relevantes, entretanto, ainda não há sinais de avanço com Japão e União Europeia. No caso europeu, há relatos na imprensa de que os negociadores europeus talvez se resignem à taxa recíproca atual de 10%. Além do “Dia D” da guerra comercial de Trump, os investidores acompanharão, nos EUA, a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), também no dia 9”, diz o economista da plataforma Investing.com, Leandro Manzoni.
O chair do Fed, Jerome Powell, mantém o tom de “esperar para ver” os efeitos das tarifas na atividade
e na inflação antes de verbalizar uma sinalização concreta de corte de juros — ainda mais diante da elevação do núcleo do índice PCE, indicador de inflação preferido do Fed, em maio, mesmo sem os efeitos das tarifas, e de um mercado de trabalho robusto, com a taxa de desemprego recuando de 4,2%
para 4,1% em junho e com a criação de vagas acima do esperado.
“Powell não descartou — embora também não tenha endossado — a possibilidade de corte de juros na próxima reunião, em julho. A ata pode revelar a predisposição de alguns membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) em iniciar os cortes o mais cedo possível, cedendo
à pressão de Trump”, comenta Manzoni.