
A Polícia Civil revelou nesta quinta-feira (24), em entrevista coletiva, novos detalhes sobre o assassinato da jovem de 18 anos, seu bebê de dois meses e um adolescente de 16 anos em Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O crime, cometido no início da semana, causou grande comoção e repercussão no Estado.
A principal nova linha da investigação indica que o bebê pode ter sido atirado ainda com vida sobre os corpos da mãe, Kauany Martins Kosmalski, e do amigo Ariel Silva da Rosa, durante a tentativa de ocultação dos cadáveres.
A informação veio à tona após o depoimento da suspeita, esposa do líder religioso – que se declarava “pai de santo” -, que confessou ter esfaqueado Kauany por ciúmes, de forma premeditada. O crime teria sido arquitetado com a participação ativa de dois adolescentes que viviam com o casal. O mais jovem, de 15 anos, é apontado como mentor da ação. Ariel, que não sabia do plano, teria sido morto pelo líder religioso ao tentar impedir o homicídio.
Segundo a delegada titular de Esteio, Marcela Smolenaars, a causa da morte do bebê Miguel ainda não foi determinada, mas que todos os envolvidos serão responsabilizados. O corpo do bebê foi colocado junto dos demais em uma cova improvisada, às margens do Rio dos Sinos.
A investigação não descarta a possibilidade de que ele ainda estivesse vivo no momento em que foi descartado. “O bebê ficou no carro durante as execuções. Ainda não temos a confirmação da causa da morte. Mas o contexto é de violência e todos serão responsabilizados”, afirmou.
Segundo a delegada, o crime foi premeditado e orquestrado pela mulher, com ajuda direta do menor, que teria sugerido o assassinato para proteger o casal da exposição de uma relação extraconjugal com a jovem Kauany, iniciada quando ela ainda era menor de idade.
O relacionamento é investigado como violência sexual mediante fraude e pode agravar as imputações contra o “pai de santo”, principalmente se for confirmado que ele é o pai do bebê. “O crime foi cometido por motivo fútil, por meio cruel, com emboscada e para assegurar a impunidade de outro crime, que seria o abuso anterior”, explicou Marcela.
A investigação agora trata o caso como triplo homicídio quadruplamente qualificado, e não mais como feminicídio. As qualificadoras identificadas pela investigação são: motivo fútil; meio cruel (diversas facadas); traição e emboscada; para assegurar a impunidade de outro crime (violação sexual mediante fraude, cometida pelo líder em face da então menor Kauany). Considerando a premeditação e divisão de tarefas, todos os quatro suspeitos serão investigados pelos homicídios e está descartada apenas a atribuição de ocultação de cadáveres aos menores.
A frieza e a ausência de remorso por parte dos autores – especialmente os menores envolvidos – também chamou a atenção dos investigadores. “É chocante. Os adolescentes demonstraram zero remorso. Ao saberem da prisão do ‘pai de santo’, um deles entrou em desespero, tamanho era o vínculo emocional que tinham com ele”, relatou a delegada.
O delegado regional de Canoas, Cristiano Reschke, destacou ainda que o grupo vivia em uma espécie de “estrutura de adoração e influência”, onde o homem exercia forte controle emocional sobre os jovens, que o reverenciavam como figura espiritual e paternal. Os dois jovens eram homossexuais e moravam com o casal.
A Polícia Civil aguarda laudos periciais sobre a causa da morte do bebê e os exames de DNA que devem confirmar a paternidade. Telefones dos suspeitos foram apreendidos e devem ajudar a esclarecer a comunicação antes e depois do crime.
Após o depoimento da suspeita, novas buscas foram realizadas no local do crime e resultaram na localização dos chinelos da vítima. Eles foram atirados pelos suspeitos junto das facas que teriam sido utilizadas para matar a jovem e o adolescente, mas que não foram encontradas.
O inquérito corre sob sigilo e a polícia pede que, quem tiver informações sobre os eventos religiosos conduzidos pelo suposto pai de santo ou sobre o crime, procure a Delegacia de Esteio.
Fonte: Guilherme Sperafico / Correio do Povo