
Ainda convivendo com rescaldos dos alagamentos das últimas semanas, moradores da região das Ilhas voltam a ter suas ruas e casas alagadas por conta da chuva desse final de semana, como em diversas ruas na Ilha da Pintada que já havia registrado recuo. Na Avenida Presidente Vargas, segundo relatos de moradores, até o final da manhã de ontem a água havia baixado bastante, mas voltou a subir rapidamente. Conforme informações da Defesa Civil, a régua de medição marcava 2,56 metros no início desta manhã, ainda ultrapassando a cota de inundação.
A moradora Simone Macedo caminhava com botas pela avenida Presidente Vargas e relatou a velocidade que a água subiu. “Essa rua estava toda seca, começou a descer, mas essa noite encheu tudo. Subiu muito rápido”, detalha. Ela está abrigada na casa da sua tia nessa rua, mas mora na Nossa Senhora da Boa Viagem, ao lado.
Ela foi até sua casa ontem limpar e tirar o barro que ficou, aproveitando que a água havia fechado um pouco. Mas logo tudo voltou a subir novamente. “Não tem como baixar (os móveis), que vem de novo”, diz. Ela saiu de casa com sua irmã quando a água já tava na cintura. Acredita que vai haver repique, e monitora a volta da água.
Simone diz não querer mais investir na sua casa enquanto morar na Ilha. Pretende sair da casa quando puder. “Só não sei quando. Mas eu quero. Moro há 51 anos aqui. Mas antigamente tínhamos enchente a cada 10 anos. Agora é uma atrás da outra, e cada vez pior”, diz. “Não dá pra ficar a vida inteira perdendo”.
Também morador da Presidente Vargas, Nilton Reis caminha pelas ruas alagadas e relata o avanço da água nas últimas horas. “Estava tudo seco no sábado”, diz. Sua esposa e filha saíram de casa quando a água começou a entrar pelos fundos. Ele permaneceu e segue monitorando o comportamento.
Nilton, que nasceu na Ilha da Pintada, conforme a frequência das enchentes tem pensado se um dia vai ser necessário sair do lugar onde mora há 78 anos. “A gente vai mudando os pensamentos. Não tem condições de ficar e ter uma casa arrumada. Está tudo ficando abandonado, a vizinhança. Fico pensando, será que vou ter que sair logo?”, diz.
“A gente vai acumulando esse tento de sofrimento de ter que passar por essas coisas sempre”, reflete Nilton. Na enchente do ano passado, ficou abrigado no seu barco, o mesmo que auxiliou em vários resgates. Não deseja passar por isso novamente. “Deus me livre. Não quero nem pensar.”
Conforme a Defesa Civil, das 82 famílias abrigadas na Arena KTO – 22 são da ilha da Pintada, 6 da Ilha do Pavão, 2 da Ilha das Flores e 5 da ilha dos Marinheiros.
Fonte: Leticia Pasuch/Correio do Povo