
A queda da cobertura vacinal e medidas necessárias para conscientização e de metas de imunização no Rio Grande do Sul foram debatidas em audiência pública da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, realizada na manhã desta quarta-feira. O encontro contou com representantes de órgãos municipais e estaduais.
A audiência foi requerida pelo deputado Valdeci Oliveira (PT), condutor do debate. Ele pontuou o papel central na redução da mortalidade infantil por meio das vacinas nos últimos 50 anos, reduzindo em 40% devido às imunizações. “Desde 1974, as vacinas evitaram 154 milhões de mortes em todo o mundo, 95% delas entre crianças menores de 5 anos”, destacou.
Também acrescentou que, até maio deste ano, 82% de pacientes hospitalizados e 78% dos mortos não estavam vacinados, segundo dados do Governo do Estado. A cobertura vacinal entre grupos prioritários é de apenas 49,4%, enquanto a meta é 90%. “A cobertura entre os grupos prioritários segue muito abaixo da meta de 90%. Até o momento, apenas 49,4% dos públicos prioritários (idosos, crianças pequenas e gestantes) receberam a dose anual”, reforçou. “Temos que fazer o debate, disputar as narrativas e esclarecer e conscientizar sempre que necessário a população”.
A presidente do Conselho de Saúde do Estado (CES), Inara Ruas, lamentou a diminuição da cobertura vacinal para Influenza e Covid e o aumento de internações e óbitos por síndromes respiratórias graves. Ela informou que há falta de vacinas para Covid nos postos de saúde de Porto Alegre, e criticou o Governo Federal pelo envio de poucas doses para o Estado. Também alegou que as campanhas anti vacinas no país acabaram atrapalhando a cobertura vacinal de crianças recém nascidas e gestantes. “Vacinar é um ato de cidadania, de amor a si e aos outros. Devemos vacinar e não acreditar em boatos e fake news”, declarou.
A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS/RS), Tani Ranieri, tratou das estratégias do governo estadual para melhoria da cobertura vacinal de rotinas, abrangendo o público prioritário. Afirmou que as vacinas do calendário básico infantil, desde 2023, tiveram aumento significativos, beirando a 95%, mas quando se fala de vacinas da Influenza e Covid, nos últimos anos, foi registrada uma queda.
A diretora do Cevs indicou que a cobertura vacinal para meninas adolescentes contra o HPV (Papilomavírus Humano) atingiu, em 2025, os 86%. “O que é um índice importante. Buscamos agora os 90%. O HPV pode causar câncer em mulheres e é a quarta incidência de óbitos entre mulhere”, acrescentou.
Cristiane Corrales, do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), citou o selo dos municípios gaúchos que atingem metas de aplicação de vacinas pentavalente, tríplice viral e contra o HPV, iniciativa da Secretaria da Saúde (SES), em parceria com o MPRS de 2022, para incentivar a vacinação e valorizar as estratégias de imunização das prefeituras. Citou a atuação do projeto “Amigo da Vacina” e que neste ano houve a ampliação até dezembro da vacina para o HPV até os 19 anos. “Nós precisamos que essa informação chegue ao máximo de pessoas”, afirmou, destacando a necessidade de haver capilaridade dos promotores de Justiça para estarem próximos das equipes de saúde na divulgação nos meios de comunicação junto com a pasta sobre as vacinas.
Ela também ressaltou a importância de que a escola, em conjunto com a Secretaria de Saúde, utilize canais de comunicação para alertar as famílias que estão com atraso na vacina, já que existe uma lei estadual que coloca como obrigatória essa conferência no momento da matrícula.
O vereador e médico pediatra Alexandre Bublitz (PT), representando a Câmara Municipal de Porto Alegre, lembrou que a vacina da Covid-19 ainda é deixada de lado, e houve movimentos do antigo governo federal que enfraqueceram a cobertura vacinal. Programas como o Bolsa Família exigiam que as crianças participassem do calendário, e a mudança de postura governamental fez com que as taxas de vacinação caíssem. Mas, também, ressaltou que ainda há problemas culturais nas famílias que impedem que essa taxa aumentem, como a vacina do HPV.
“Infelizmente, um preconceito gigantesco por coisas que foram implantadas na cabeça das pessoas que são mentiras, falando que é uma vacina que vai sexualizar as crianças. A gente tem uma vacina que previne um câncer terrível. O câncer que matou milhões de mulheres no mundo inteiro e a gente tem hoje uma vacina que prevê isso, é algo maravilhoso. A gente precisa reforçar nesse sentido”, afirmou.
Fonte: Correio do Povo