
A um dia da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o governo federal insiste na via diplomática.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afastou, por ora, qualquer retaliação e optou por priorizar a negociação direta com o governo norte-americano.
O professor de Relações Internacionais e cientista político Maurício Santoro lembra das recentes declarações de Donald Trump — que disse “amar o povo do Brasil” e se mostrou disponível para conversar com Lula “a qualquer momento”.
Mas, para ele, dificilmente essas falas modificarão o cenário adverso enfrentado por Brasília.
“O Brasil é um caso à parte nesse tarifaço promovido por Trump, porque a disputa não gira em torno de questões comerciais — os Estados Unidos têm superávit na relação bilateral —, mas sim da política interna brasileira”, explica.
Isso tornaria qualquer concessão de Lula muito mais complexa, pois envolve decisões do Supremo Tribunal Federal, acredita Santoro. “Nem mesmo o presidente tem poder para revogar medidas da Corte, muito menos uma autoridade estrangeira”, avalia.
O especialista acrescenta: “Até agora, o governo brasileiro conseguiu negociar isenções importantes que cobrem cerca de 40% das exportações para os Estados Unidos, preservando setores como aviação, suco de laranja e ferro”.
Ainda assim, segundo ele, permanecem sob impacto tarifas sobre produtos essenciais no comércio bilateral, como café, alumínio, armas e têxteis.
“É difícil avançar com novas concessões. Como se vê em negociações com outros parceiros estratégicos de Washington, como a União Europeia, talvez o máximo neste momento seja adotar medidas para controle de danos”, analisa.
Santoro projeta um impasse prolongado: “A tensão entre Brasil e EUA deve se estender por vários meses. As tarifas trarão impacto negativo à economia, embora sem provocar um colapso. Lula poderá sustentar esse conflito e explorá-lo politicamente durante a campanha de 2026”.
Limites e pressões políticas
Durante conferência do Partido dos Trabalhadores, realizada no domingo (3) em Brasília, o presidente afirmou ter “limites” sobre o que pode declarar publicamente nas negociações com os Estados Unidos.
“Nessa briga com a taxação dos EUA, eu tenho limite de briga com o governo americano. Não posso falar tudo que acho que devo falar, tenho que falar o que é possível falar, o que é necessário”, disse Lula, sugerindo cautela estratégica.
Segundo o presidente, o movimento tarifário norte-americano seria uma reação ao fortalecimento da presença internacional do Brasil. Ele citou, como exemplo, a busca por acordos com a União Europeia por meio do Mercosul.
Portal R7