
O ano de 2026 será de moderação econômica. Pelo menos é o que projeta a Fecomércio-RS, que estima uma inflação a 3,9%, juros caindo lentamente e câmbio em torno de R$5,40, o país deve registrar crescimento contido. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a expectativa é de uma alta de 1,7%, enquanto o gaúcho deve crescer 2,7%, impulsionado pela recuperação gradual após eventos climáticos e pela relevância da agropecuária, ainda cercada de incertezas climáticas e divergências entre as estimativas de safra. Os dados foram apresentados em evento de final de ano da entidade com jornalistas.
Para o economia consultor econômico da entidade, Marcelo Portugal, o ano eleitoral pode alterar esse cenário: “Nosso modelo assume a estabilidade da política econômica. Eleições acirradas tendem a aumentar o risco de medidas populistas, especialmente no campo fiscal. Uma expansão fiscal mais forte pode antecipar tensões que hoje projetamos para 2027”, disse. Também foi mencionada a provável mudança no Ministério da Fazenda prevista para abril de 2026, cujo impacto ainda é incerto.
CENÁRIO GAÚCHO
Para o Rio Grande do Sul, 2026 será decisivo para a renegociação da dívida com a União no âmbito do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), destaca a Fecomércio-RS. O Decreto nº 12.650 estabelece prazo até 31 de dezembro de 2026 para que Estados formalizem acordos. “A União tem aceitado propostas que podem gerar distorções. É preciso estar atento para que o Rio Grande do Sul não seja prejudicado. A negociação de Minas Gerais será um teste importante para entendermos o padrão que será aplicado”, comentou Portugal.
Em consonância com o consultor econômico, o presidente do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac e IFEP, Luiz Carlos Bohn ressaltou a relevância da oportunidade para as contas do Estado. “O Rio Grande do Sul terá oportunidade única em 2026 com a renegociação via Propag. Se bem conduzida, ela pode aliviar o peso da dívida e abrir espaço para investimentos. Mas é essencial atenção aos critérios e precedentes que serão adotados”, alertou.
CONTRASTES
De acordo com dados apresentados pela entidade, 2025 foi um ano marcado por contrastes. O crescimento econômico, que começou aquecido, perdeu força ao longo dos trimestres. O Produto Interno Bruto (PIB) registrou expansão de 1,3% no primeiro trimestre e 0,4% no segundo, enquanto o Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil (IBC-Br) apresentou retração de -0,89% no terceiro trimestre, indicando possível recessão na segunda metade do ano. “Foi um ano que começou bem e termina mal em termos de atividade econômica. Houve desaceleração acima do esperado, pressionada pela combinação de juros reais excessivamente elevados e um ambiente internacional que ainda passa por incertezas”, afirmou Portugal.
O consultor destacou que a manutenção da taxa Selic em nível elevado foi uma decisão da nova gestão do Banco Central (BC), com foco na recuperação da credibilidade e controle da inflação. “A prioridade do BC foi mostrar firmeza no combate à inflação. Isso adiou a sinalização de cortes nos juros para 2026, mas reforça a âncora de credibilidade necessária para o país”, explicou. Apesar da perda de dinamismo, a inflação apresentou comportamento mais benigno ao longo do ano, o que pode ser explicado por dois fatores: o nível elevado dos juros reais e a desvalorização internacional do dólar após mudanças tarifárias promovidas pelo governo dos Estados Unidos. “Desde a posse de Trump, o dólar perdeu força globalmente. Contra o euro, chegou a se desvalorizar 14%. No Brasil, esse movimento, combinado com juros reais altos, ajudou a valorizar o real e a segurar preços internos”, comentou o economista.
Outro ponto passível de críticas durante o encontro foi o avanço fragilizado da política fiscal. Para Portugal, o aumento da arrecadação tem sido utilizado para financiar a ampliação de gastos, sem melhoria estrutural do equilíbrio fiscal. “Não houve explosão imediata do déficit primário, mas também não caminhamos para estabilização da relação entre dívida e PIB”, disse. Já Luiz Carlos Bohn destacou que o desenho do sistema de crédito brasileiro limita a efetividade da política monetária. Hoje, 42,5% do crédito total no País é direcionado, menos sensível à Selic. “Quando metade do crédito não depende das taxas de mercado, a Selic precisa ser mais alta do que seria necessário se todo o crédito fosse livre”, apontou.