
O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre será o termômetro da real extensão da desaceleração econômica no Brasil – cenário esperado em decorrência da taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano. O verdadeiro teste será verificar se o menor ritmo de crescimento estará em linha com as projeções do mercado e do Banco Central. A resposta será conhecida na quinta-feira, 4, às 9h, pelo IBGE. Se tomado como base o IBC-Br, considerado a prévia do PIB divulgada pelo Banco Central, a atividade econômica retraiu 0,9% entre julho e setembro, puxada pela forte queda de 4,5% da agropecuária, além de retrações na indústria (-0,3%) e nos serviços (-0,3%).
A média móvel trimestral dos dados setoriais do IBGE para o terceiro trimestre conta outra história. A produção industrial teve leve crescimento de 0,1% no período, enquanto as vendas no varejo recuaram 0,1% e o volume de serviços avançou 0,5%. “Apesar da queda nas vendas do varejo em geral, houve alta no varejo ampliado, que engloba segmentos sensíveis ao crédito, como automóveis e materiais de construção”, comenta Leandro Manzoni, da plataforma Investing.com.
As vendas no varejo ampliado registraram alta de 1% na série dessazonalizada, provavelmente impulsionadas pelo novo programa de crédito consignado para trabalhadores do setor privado e pelo pagamento de precatórios.
Se o número vier em linha com o IBC-Br, é provável que o corte da taxa Selic ocorra somente em janeiro, na primeira reunião do Copom de 2026. O corte não deve acontecer em dezembro, já que o encontro será realizado nos dias 9 e 10 de dezembro, antes da divulgação do dado final do IPCA de 2025, previsto apenas para janeiro. O Banco Central quer ter a “segurança psicológica” de que a inflação ao consumidor deste ano ficará dentro da banda de tolerância — ou seja, igual ou abaixo de 4,5%, 1,5 ponto percentual acima do centro da meta de 3%.
A última reunião do Copom deste ano, aliás, será acompanhada de perto por filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que marcou para dia 9 uma manifestação em frente à sede do Banco Central, em Brasília, para pressionar pela redução da Taxa Selic ainda em 2025, que hoje está em 15%.
DÚVIDA PARA 2026
Caso o resultado venha em linha com os indicadores do IBGE, a dúvida deve persistir entre as reuniões de janeiro e março do Copom quanto ao início do primeiro corte da Selic desde maio de 2024. A maior probabilidade de flexibilização monetária é em janeiro, mas dependerá de alguns fatores, como a trajetória descendente da inflação anual de serviços e seus núcleos, e da taxa de desemprego estável, ainda que nas mínimas históricas.
“Se o PIB do terceiro trimestre vier acima do esperado, as apostas do mercado devem migrar para março — ainda mais porque o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não abandonou o discurso extremamente hawkish a duas semanas da reunião de dezembro do Copom”, diz Manzoni.
Antes do PIB do Brasil, a semana começa na segunda-feira, 1º, o tradicional Boletim Focus será divulgado no Brasil pela manhã. Nos EUA, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, fará uma apresentação à noite. Os investidores observarão se Powell manterá o discurso de cautela, sugerindo manutenção da taxa de juros na reunião de 10 de dezembro, ou se retomará o tom compatível com a continuidade da flexibilização monetária.
Na terça-feira, 2, serão divulgadas a produção industrial de outubro no Brasil, a prévia da inflação ao consumidor de novembro e a taxa de desemprego de outubro da Zona do Euro. No dia seguinte, saem a inflação ao produtor de outubro da Zona do Euro, o relatório de emprego privado da ADP de novembro e a produção industrial de setembro nos EUA.
Além do PIB do Brasil, na quinta-feira, 4, serão conhecidos o número de demissões no setor privado dos EUA, medido pela Challenger, e a balança comercial de novembro no Brasil. Por fim, na sexta-feira, 5, serão divulgados a inflação ao produtor de outubro no Brasil, o índice PCE de setembro — indicador de inflação preferido do Fed — e a prévia da confiança do consumidor de dezembro, medida pela Universidade de Michigan, nos EUA. mês.